UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO SOBRE A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DA TEORIA GAIA

Autores

  • Marina de Lima-Tavares Instituto de Biologia – UFBA. Mestrado em Ensino, Filosofia e História das Ciências – UFBA/UEFS. Mestrado em Ecologia e Biomonitoramento - UFBA
  • Charbel Niño El-Han

Palavras-chave:

Gaia, Vida, Ensino de Biologia, Meio ambiente, Cientificidade

Resumo

Este trabalho, que é parte de um projeto mais amplo, no qual se analisa a cientificidade da teoria Gaia, pretende contribuir para uma apreciação crítica do papel que esta poderia desempenhar no ensino de Biologia e no tratamento do tema transversal “meio ambiente”. A teoria Gaia propõe que a biosfera atua como um sistema adaptativo de controle, mantendo a Terra em homeostase. Alguns autores têm proposto, nos últimos anos, que esta teoria seja incorporada ao conhecimento escolar. Ela já se encontra, inclusive, em livros didáticos de Biologia do ensino médio publicados no Brasil. Neste artigo, levantamos o problema da cientificidade desta teoria, considerando que sua transposição didática deve estar apoiada numa demonstração prévia de sua natureza científica. Analisamos uma das razões pelas quais a comunidade científica tem visto com suspeita a teoria Gaia, a proposição de que a Terra é um ser vivo, examinando suas conseqüências para uma apreciação de sua cientificidade, bem como da possibilidade de sua transposição para o conhecimento escolar. Os proponentes desta teoria acreditam que ela torna possível caracterizar a Terra como um ser vivo. Esta proposição, entretanto, não é justificada por uma análise do conceito de ‘vida’ ou ‘ser vivo’. Neste trabalho, a proposição de que a Terra é um sistema vivo é analisada à luz de definições de vida encontradas em três paradigmas biológicos: a teoria neodarwinista da evolução, a teoria da autopoiese e a biossemiótica. Esta análise mostra que: (i) a proposição de que a Terra é um ser vivo certamente não pode ser sustentada com base na biologia evolutiva neodarwinista; (ii) é possível, mas provavelmente difícil, fundamentá-la com base na biossemiótica; (iii) a teoria autopoiética oferece, em princípio, a melhor oportunidade para caracterizar-se a Terra como um ser vivo, mas trata-se, ainda assim, de uma proposição controversa. A transposição didática da teoria Gaia poderia ser feita de maneira mais apropriada, bem como sua testabilidade e seu conteúdo empírico seriam mais adequadamente enfatizados, se a asserção de que a Terra é viva fosse claramente separada de seu núcleo duro ou até mesmo eliminada.

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Publicado

2016-11-16

Como Citar

de Lima-Tavares, M., & Niño El-Han, C. (2016). UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO SOBRE A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DA TEORIA GAIA. Investigações Em Ensino De Ciências, 6(3), 299–336. Recuperado de https://ienci.if.ufrgs.br/index.php/ienci/article/view/579

Edição

Seção

Artigos