UMA ANÁLISE SOBRE A REALIDADE DAS ENTIDADES CIENTÍFICAS EM UM LIVRO DE FÍSICA DO ENSINO SUPERIOR
DOI:
https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2018v23n3p232Palavras-chave:
Entidades Científicas, Realidade, Livro Didático, Halliday, RotinizaçãoResumo
No presente trabalho apresentamos uma investigação acerca da abordagem sobre entidades científicas em um livro didático de física do ensino superior. Procuramos analisar a justificativa usada pelo livro Fundamentos de Física (Halliday, Resnick & Walker, 2009a; 2009b; 2009c; 2009d) para que o fóton, o quark e o elétron sejam tomados como reais e, além disso, se as caracterizações e discussões relativas à realidade dessas entidades são significativas frente às demais vezes em que conteúdos referentes a elas aparecem no livro. A pesquisa levou em consideração que ensinar/aprender física envolve não somente tratar de aspectos conceituais e operacionalizações das suas teorias, mas também reflexões sobre questões relacionadas à natureza dos conhecimentos científicos, inclusive sobre a realidade das entidades da ciência. Como resultado, foi possível perceber que justificativas utilizadas pelo livro para as entidades serem consideradas reais se deram por meio de inferências abdutivas, mas de maneira pouco explícita e pouco frequente. Além disso, as entidades são tratadas na maior parte do tempo de forma operacional. Entendemos que a abordagem do Halliday possui uma feição “rotineira” (Giddens, 2009), considerando o caráter habitual do uso das entidades em atividades que envolvem aplicação e resolução de problemas algébricos, que não exigem reflexões sobre a realidade delas, mas tão somente reflexões concernentes ao “como fazer”. Atividades com feição rotineira limitam os modos de pensar àquilo que Giddens chamou de consciência prática e, dessa forma, a compreensão acerca da realidade das entidades daqueles que estudam física por meio desse livro pode permanecer em um nível tácito e utilitário, não havendo elementos suficientes para o esclarecimento da problemática relativa a como a ciência caracteriza a realidade e, mais ainda, em que sentido as entidades científicas podem realmente ser tomadas como reais.Referências
Bagdonas, A.; Zanetic, J., & Gurgel, I. (2014). Controvérsias sobre a natureza da ciência como enfoque curricular para o ensino da física: o ensino de história da cosmologia por meio de um jogo didático. Revista Brasileira de História da Ciência, 7(2), 242-260. Recuperado de https://www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=1960
Chevallard, Y. (1991). La Transposición Didáctica: del saber sabio al saber enseñado. Trad. Claudia Gilman. Buenos Aires: Aique Grupo Editor.
Chibeni, S. S. (1996). A inferência abdutiva e o realismo científico. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, série 3, 6(1), 45-73. Recuperado de http://www.unicamp.br/~chibeni/public/abdrea.pdf
Dutra, L.H.A. (1998). Introdução à Teoria da Ciência. Florianópolis: Editora da UFSC.
Eflin, J.T., Glennan, S., & Reisch, G. (1999). The nature of science: A perspective from the philosophy of science. Journal of Research in Science Teaching, 36(1), 107-116. DOI: 10.1002/(SICI)1098-2736(199901)36:1%3C107::AID-TEA7%3E3.0.CO;2-3
Fernández, I., Gil, D., Carrascosa, J., Cachapuz, A., & Praia, J. (2002). Visiones deformadas de la ciencia transmitidas por la enseñanza. Enseñanza de las Ciencias, 20(3), p. 477-488. Recuperado de https://ddd.uab.cat/pub/edlc/02124521v20n3/02124521v20n3p477.pdf
Giddens, A. (2009). A constituição da sociedade (3a. ed.). Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.
Halliday, D., Resnick, R., & Walker, J. (2008). Fundamentals of physics: extended (8th ed.). Hoboken: John Wiley & Sons.
Halliday, D., Resnick, R., & Walker, J. (2009a). Fundamentos de Física, vol. 1: mecânica (8a. ed.). Tradução de Ronaldo Sérgio de Biasi. Rio de Janeiro: LTC, 4v.
Halliday, D., Resnick, R., & Walker, J. (2009b). Fundamentos de Física, vol. 2: gravitação, ondas e termodinâmica (8a. ed.). Tradução de Ronaldo Sérgio de Biasi. Rio de Janeiro: LTC, 4v.
Halliday, D., Resnick, R., & Walker, J. (2009c). Fundamentos de Física, vol. 3: eletromagnetismo (8a. ed.). Tradução de Ronaldo Sérgio de Biasi. Rio de Janeiro: LTC, 4v.
Halliday, D., Resnick, R., & Walker, J. (2009d). Fundamentos de Física, vol. 4: óptica e física moderna (8a. ed.). Tradução de Ronaldo Sérgio de Biasi. Rio de Janeiro: LTC, 4v.
Kuhn, T. (2005). A Estrutura das Revoluções Científicas. (9a. ed.). São Paulo: Perspectiva.
Lamb, W.E., & Scully, M. O. (1969). The photoelectric effect without photons. In Polarization, Matière et Rayonnement. Presses University de France, Paris. Recuperado de http://users.unimi.it/aqm/wp-content/uploads/Lamb-1968.pdf
Lederman, N. G. (1992). Student’s and teacher’s conceptions of the nature of science: a review of the research. Journal of Research in Science Teaching, 29(4), 331-359. DOI: 10.1002/tea.3660290404
Lima, N. W., Antunes, E., Ostermann, F., & Cavalcanti, C. J. H. (2017a). Uma Análise Bakhtiniana dos Enunciados sobre o Efeito Fotoelétrico em Livros Didáticos do Ensino Superior. In X Congreso Internacional sobre Investigación en Didácticas de las Ciencias, 2017, Sevilla. Enseñanza de las ciencias, Núm. Extra, 1947-1952. Recuperado de https://ddd.uab.cat/pub/edlc/edlc_a2017nEXTRA/23_-_Uma_Analise_Bakhtiniana_dos_Enunciados_Sobre.pdf
Lima, N. W., Antunes, E., Ostermann, F., & Cavalcanti, C. J. H. (2017b). A História do Fóton em Livros de Física. In: X Congreso Internacional sobre Investigación en Didácticas de las Ciencias, 2017, Sevilla. Enseñanza de las ciencias, Núm. Extra, 1953-1958. Recuperado de https://ddd.uab.cat/pub/edlc/edlc_a2017nEXTRA/24_-_A_Historia_do_Foton_em_Livros_de_Fisica.pdf
Marineli, F. (2016). A realidade das entidades científicas e a formação de professores de física: uma análise sociocultural. Tese (Doutorado em Educação). Universidade de São Paulo, São Paulo. Recuperado de http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-29042016-132736/pt-br.php
Marineli, F., & Pietrocola, M. (2016). Estruturas Culturais, Esquemas e Recursos: como licenciandos em Física concebem e justificam o status ontológico de entidades em diferentes contextos. Investigações em Ensino de Ciências, 21(3), 109-126. DOI: 10.22600/1518-8795.ienci2016v21n3p109
Martins, A. F. P. (2015). Natureza da Ciência no ensino de ciências: uma proposta baseada em “temas” e “questões”. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 32(3), 703-737. DOI: 10.5007/2175-7941.2015v32n3p703
Matthews, M. R. (1994). Science Teaching: The Role of History and Philosophy of Science. New York: Routledge.
McComas, W. F. (2008). Seeking historical examples to illustrate key aspects of the nature of science. Science & Education, 17(2-3), 249-263.
Mccomas, W. F., Clough, M. P., & Almazroa, H. (1998). The role and character of the nature of science in science education. In McComas, W.F. (Ed.). The nature of science in science education: rationales and strategies. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 3-39.
Moraes, R. (1999). Análise de conteúdo. Educação, Porto Alegre, 22(37), 7-32. Recuperado de http://cliente.argo.com.br/~mgos/analise_de_conteudo_moraes.html
Moreira, M.A. (2000). Ensino de Física no Brasil: Retrospectiva e Perspectivas. Revista Brasileira de Ensino de Física, 22(1), 94-99. Recuperado de http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/v22_94.pdf
Moura, B. A. (2014). O que é natureza da ciência e qual sua relação com a história e filosofia da ciência? Revista Brasileira de História da Ciência, 7(1), 32-46. Recuperado de http://www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=1932
Schutz, A. (1974). Sobre las realidades múltiples. In_____. El Problema de la Realidad Social. Tradução de Néstor Míguez. Buenos Aires: Amorrortu, pp. 197-238.
Sewell, W. H. Jr. (2005). Logics of history: social theory and social transformation. Chicago: The University of Chicago Press.
Silva, M.R. (1998). Realismo e anti-realismo na ciência: aspectos introdutórios de uma discussão sobre a natureza das teorias. Ciência & Educação, 5(1), 7-13. DOI: 10.1590/S1516-73131998000100002
Tiercelin, C. (1999). Verbete “Realisme”. In Lecourt, D. (org). Dictionnaire d’histoire et philosophie des sciences. Paris: Puf.
Vieira, J. G. S., & Fernández, R.G. (2006). A estrutura das revoluções científicas na economia e a Revolução Keynesiana. Estudos Econômicos, São Paulo, 36(2), 355-381. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/ee/v36n2/v36n2a07.pdf
Zwiebel, C. (2012). The Undergraduate introductory physics textbook and the future. 2012 AHS Capstone Projects. Paper 22. Recuperado de http://digitalcommons.olin.edu/ahs_capstone_2012/22
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
A IENCI é uma revista de acesso aberto (Open Access), sem que haja a necessidade de pagamentos de taxas, seja para submissão ou processamento dos artigos. A revista adota a definição da Budapest Open Access Initiative (BOAI), ou seja, os usuários possuem o direito de ler, baixar, copiar, distribuir, imprimir, buscar e fazer links diretos para os textos completos dos artigos nela publicados.
O autor responsável pela submissão representa todos os autores do trabalho e, ao enviar o artigo para a revista, está garantindo que tem a permissão de todos para fazê-lo. Da mesma forma, assegura que o artigo não viola direitos autorais e que não há plágio no trabalho. A revista não se responsabiliza pelas opiniões emitidas.
Todos os artigos são publicados com a licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional. Os autores mantém os direitos autorais sobre suas produções, devendo ser contatados diretamente se houver interesse em uso comercial dos trabalhos.
