Educação para as relações étnico-raciais: a perspectiva de licenciandos em Ciências Biológicas
DOI:
https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci/2025v30n3p298Palavras-chave:
Educação antirracista, Relações étnico-raciais, Formação de professores de Ciências e Biologia, Ensino de GenéticaResumo
A Lei 10.639/03 representa um marco na educação para as relações étnico-raciais. No entanto, a sua implementação ainda enfrenta desafios, como a formação de docentes e a convicção de que essas discussões são exclusivas das Ciências Humanas. Considerando a influência das Ciências Biológicas na criação do racismo científico, a desconstrução do mesmo deveria ter a participação do campo das Ciências da Natureza. Este artigo investiga a perspectiva de 28 licenciandos em Ciências Biológicas de IES do Rio Janeiro, sobre a incorporação da educação das relações étnico-raciais no ensino de Ciências e Biologia. Os dados empíricos foram obtidos a partir de um questionário, com o objetivo de analisar as concepções dos estudantes sobre racismo, eugenia e o papel das disciplinas escolares nessas discussões. Alguns participantes associaram o racismo a características fenotípicas, mas a maioria foi capaz de expandir o conceito ao aspecto social. Os participantes demonstraram conhecimento sobre o conceito de eugenia, mas alguns reduziram o conceito de racismo a somente preconceito ou discriminação direta. Embora muitos estudantes tenham considerado as disciplinas de Ciências e Biologia como espaços para debates sociais, ainda há resistência quanto à abordagem da educação étnico-racial na sala de aula. Conclui-se que é essencial fortalecer a formação docente no que se refere à educação científica antirracista.Referências
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