Paulo Freire e Basil Bernstein: O Papel da Problematização via Tema Gerador e dos Códigos Pedagógicos em Aulas de Ciências Naturais
DOI:
https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci/2025v30n3p167Palavras-chave:
Paulo Freire, Problematização, Basil Bernstein, Ensino de Ciências, Códigos pedagógicosResumo
Este estudo tem o objetivo de analisar como a problematização dialógica via Tema Gerador, proposta por Paulo Freire, possibilita que os estudantes recontextualizem códigos restritos em códigos elaborados, mediada pelas pedagogias visível e invisível da teoria de Basil Bernstein, favorecendo a superação do discurso pedagógico da reprodução das desigualdades sociais. Inicialmente, o artigo estabelece uma reflexão teórica que relaciona a Investigação Temática de Freire e sua contextualização para o ensino formal de Ciências à estrutura do Dispositivo do Discurso Pedagógico de Bernstein, propondo um exemplo de Dispositivo do Discurso Pedagógico Freireano. Em um segundo momento, apresenta-se um recorte empírico de uma aula de Ciências Naturais no Ensino Fundamental brasileiro, na qual foi implementado esse dispositivo freireano. As interações argumentativas dos estudantes foram analisadas por meio da Análise Textual Discursiva (ATD), com foco na categoria emergente: “problematização a partir da contextualização social via Tema Gerador e identificação de códigos restritos”. Os resultados indicam que a abordagem problematizadora e dialógica potencializa o reconhecimento dos códigos restritos e da pedagogia invisível presentes nas vivências dos estudantes, evidenciando o papel do campo de contextualização primária e cultural (família/ comunidade) como elemento recontextualizador do currículo. Conclui-se que os currículos atuais frequentemente negligenciam questões sociais específicas das comunidades escolares, reforçando a urgência de práticas pedagógicas mais contextualizadas, críticas e socialmente comprometidas.Referências
Almeida, E. dos S., & Gehlen, S. T. (2019). Organização curricular na perspectiva Freire-CTS: Propósitos e possibilidades para a educação em ciências. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 21, 1–24. https://doi.org/10.1590/1983-21172019210126
Apple, M. W. (2019). Critical Education, Critical Theory, and the Critical Scholar/Activist. Educational Policy, 33(7), 1171–1179. https://doi.org/10.1177/0895904818810529
Bernstein, B. (1990). Class, Codes and Control, Volume IV: The Structuring of Pedagogic Discourse. London: Routledge.
Bernstein, B. (1998). Pedagogía, control simbólico e identidad. Madrid: Ediciones Morata.
Castro, S. T. de. (2017). A construção da ciência na educação científica do ensino secundário: Estudo do discurso pedagógico do programa e de manuais escolares de Biologia e Geologia do 10.o ano e das conceções dos professores [Tese de Doutorado em Educação, Universidade de Lisboa]. https://repositorio.ul.pt/handle/10451/29862
Davies, B., Morais, A., & Muller, J. (Eds.). (2004). Reading Bernstein, Researching Bernstein. London: Routledge.
Delizoicov, D. (1991). Conhecimento, tensões e transições [Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo]. https://repositorio.usp.br/item/000733479
Delizoicov, D., Angotti, J. A., & Pernambuco, M. M. (2011). Ensino de Ciências: Fundamentos e métodos (4a). Cortez.
Feijó, N., & Delizoicov, N. C. (2016). Professores da educação básica: Conhecimento prévio e problematização. Retratos da Escola, 10(19), 597–610. https://doi.org/10.22420/rde.v10i19.643
Fernandes, G. W. R., Allain, L. R., & Dias, I. R. (2022). Metodologias e abordagens diferenciadas em ensino de ciências. São Paulo: LF Editorial.
Fernandes, G. W. R., Fernandes, I. H., & Santos, D. L. (2024). Alfabetização Científica e Tecnológica como Transformação Social: Uma reflexão para a sua promoção no ensino de ciências a partir de uma tecnologia social. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 26, 1–23. https://doi.org/10.1590/1983-21172022240195
Fernandes, G. W. R., Rodrigues, A. M., & Ferreira, C. A. (2018). Elaboração e validação de um instrumento de análise sobre o papel do cientista e a natureza da ciência e da tecnologia. Investigações em Ensino de Ciências, 23(2), 256–290. https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2018v23n2p256
Fernandes, G. W. R., Rodrigues, A. M., & Ferreira, C. A. R. (2020). Atividades investigativas baseadas em TICE: Um estudo dos domínios social, afetivo e cognitivo de crianças e jovens a partir dos fundamentos essenciais da argumentação no contexto da educação científica. Investigações em Ensino de Ciências, 25(2), 369–387. https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2020v25n2p369
Ferreira, S., Morais, A. M., & Neves, I. (2010). Concepção de currículos de ciências: Análise dos princípios ideológicos e pedagógicos dos autores. Educação & Realidade, 35(1). https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/7835
Fischman, G. E., & McLaren, P. (2005). Rethinking Critical Pedagogy and the Gramscian and Freirean Legacies: From Organic to Committed Intellectuals or Critical Pedagogy, Commitment, and Praxis. Cultural Studies, Critical Methodologies, 5(4), 425–446. https://doi.org/10.1177/1532708605279701
Flick, U. (2009). Introdução à Pesquisa Qualitativa (3a edição). Porto Alegre: Artmed.
Freire, P. (2005). Pedagogia do oprimido (42a edição). Paz & Terra.
Furlani, J. (2008). Educação sexual: Quando a articulação de múltiplos discursos possibilita sua inclusão curricular. Perspectiva, 26(1), 283–317. https://doi.org/10.5007/2175-795x.2008v26n1p283
Gehlen, S. T., Solino, S., A. P., Santos, J. S., & Milli, J. C. L. (2021). Paulo Freire no ensino de ciências: Trajetórias formativas na Costa do Cacau da Bahia (1.a ed.). Curitiba: Editora CRV. https://doi.org/10.24824/978652512142.0
Gil, A. C. (2002). Como Elaborar Projetos de Pesquisa (4a edição). São Paulo: Atlas.
Giorgi, C. G. D., Militão, A. N., & Pontes, T. P. de A. (2020). Política e educação na «Pedagogia do Oprimido» de Paulo Freire: Duas dimensões da leitura da realidade. Educação, Sociedade & Culturas, 56, 27–44. https://doi.org/10.34626/esc.vi56.24
Horton, M., & Freire, P. (1990). We Make the Road by Walking: Conversations on Education and Social Change. Philadelphia: Temple University Press.
Miranda, A. C. G., Pazinato, M. S., & Braibante, M. E. F. (2017). Temas Geradores Através de uma Abordagem Temática Freiriana: Contribuições para o Ensino de Ciências. Revista de Educação, Ciências e Matemática, 7(3), 73–92. https://publicacoes.unigranrio.edu.br/recm/article/view/4060
Moraes, R., & Galiazzi, M. do C. (2011). Análise Textual Discursiva (2a). Ijuí: Editora Unijuí.
Morais, A. M., & Neves, I. P. (2007). A teoria de Basil Bernstein: Alguns aspectos fundamentais. Práxis Educativa, 2(2), 115–130. https://revistas.uepg.br/index.php/praxiseducativa/article/view/313
Morais, A. M., Neves, I. P., & Ferreira, S. (2014). Currículos, Manuais Escolares e Práticas Pedagógicas. Lisboa: Editora Sílabo.
Morais, A. M., Neves, I. P., & Ferreira, S. (2019a). O currículo nas suas dimensões estrutural e interacional: Perspetiva de Basil Bernstein. Práxis Educativa, 14(2), 405–431. https://doi.org/10.5212/PraxEduc.v.14n2.001
Morais, A. M., Neves, I. P., & Ferreira, S. (2019b). O currículo nas suas dimensões estrutural e interacional: Perspetiva de Basil Bernstein. Praxis Educativa, 14(2), 405–431. https://doi.org/10.5212/PraxEduc.v.14n2.001
Morais, A., Neves, I., & Delmina, P. (2004). The what and the how of teaching and learning: Going deeper into sociological analysis and intervention. Em B. Davies, A. Morais, & J. Muller (Eds.), Reading Bernstein, Researching Bernstein. London: Routledge.
Morrow, R. A., & Torres, C. A. (1997). Teoria Social e Educação: Uma crítica das Teorias da Reprodução Social e Cultural. Edições Afrontamento.
Morrow, R. A., & Torres, C. A. (2002). Reading Freire and Habermas: Critical Pedagogy and Transformative Social Change. New York: Teachers College Press.
Muenchen, C., Magoga, T. F., Schneider, T. M., & Araújo, L. B. de. (2019). Os três momentos pedagógicos na formação inicial de professores: O trabalho com temas geradores. Em G. Watanabe (Ed.), Educação Científica Freireana na Escola (pp. 73–90). São Paulo: LF Editorial.
Neumann, D. M. C., & Missel, R. J. (2019). Família digital: A influência da tecnologia nas relações entre pais e filhos adolescentes. Pensando famílias, 23(2), 75–91. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1679-494X2019000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Neves, J. V. V. da S., Carvalho, L. A. de, Carvalho, M. A. de, Silva, É. T. C., Alves, M. L. T. S., Silveira, M. F., Silva, R. R. V., & Almeida, M. T. C. (2021). Uso de álcool, conflitos familiares e supervisão parental entre estudantes do ensino médio. Ciência & Saúde Coletiva, 26(10), 4761–4768. https://doi.org/10.1590/1413-812320212610.22392020
Paiva, V. (2024). Introduzindo o dossiê “Juventudes e sexualidades na era digital: Desafios metodológicos e inspiração para renovar a pesquisa e a promoção da saúde sexual e reprodutiva”. Saúde e Sociedade, 33(1), 1–5. https://doi.org/10.1590/S0104-12902024240276pt
Poersch, K. M., Kliemann, B. C. K., & Tobaldini, B. G. (2015). Reflexões sobre o trabalho com sexualidade no ensino fundamental: Desafios e possibilidades. Ensino, Saúde e Ambiente, 8(2), 37–49. https://doi.org/10.22409/resa2015.v8i2.a21203
Roth, W.-M. (2001). Learning science through technological design. Journal of Research in Science Teaching, 38(7), 768–790. https://doi.org/10.1002/tea.1031
Santos, B. F. D. (Ed.). (2024). A Sociologia de Basil Bernstein na Pesquisa em Educação em Ciências e Matemática. São Carlos: Pedro & João Editores.
Schugurensky, D. (2014). Paulo Freire. London: Bloomsbury Academic.
Scocuglia, A. C. (2020). Pedagogia do Oprimido: Um ícone aos 50 anos. Educação, Sociedade & Culturas, 56, 11–25. https://doi.org/10.34626/esc.vi56.23
Silva, R. M. da, & Gehlen, S. T. (2016). Investigação Temática na formação de professores de ciências em Pau Brasil-BA: Compreensões acerca de um tema gerador. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 18(2), 147–169. https://doi.org/10.1590/1983-21172016180207
Silva, T. T. da. (2019). Documentos de identidade: Uma Introdução às teorias do currículo (3.a ed.). Belo Horizonte: Autêntica.
Solino, A. P., & Gehlen, S. T. (2014). Abordagem Temática Freireana e o Ensino de Ciências por Investigação: Possíveis relações epistemológicas e pedagógicas. Investigações em Ensino de Ciências, 19(1), 141–162. https://ienci.if.ufrgs.br/index.php/ienci/article/view/100
Solino, A. P., & Gehlen, S. T. (2015). O papel da problematização freireana em aulas de ciências/física: Articulações entre a abordagem temática freireana e o ensino de ciências por investigação. Ciência & Educação, 21, 911–930. https://doi.org/10.1590/1516-731320150040008
Sousa, P. S. de, Bastos, A. P. S., Figueiredo, P. S. de, & Gehlen, S. T. (2014). Investigação temática no contexto do ensino de ciências: Relações entre a Abordagem Temática Freireana e a práxis curricular via tema gerador. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, 7(2), 155–177. https://periodicos.ufsc.br/index.php/alexandria/article/view/38222
Souza, P. de, & Fernandes, G. W. R. (2022). Science Teaching in the Base Nacional Comum Curricular and in the Currículo Referência de Minas Gerais: Analysis from the perceptions of in-service and pre-service teachers. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, 13(6), 1–23. https://doi.org/10.26843/rencima.v13n6a28
Vitale, P., & Exley, B. (Eds.). (2016). Pedagogic Rights and Democratic Education: Bernsteinian explorations of curriculum, pedagogy and assessment (1st edition). Routledge.
Young, M. F. D. (2003). The Curriculum of the Future: From the «New Sociology of Education» to a Critical Theory of Learning (1st edition). Routledge.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Geraldo Wellington Rocha Fernandes, Juliana Alves Torres Gomes, António Rodrigues

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
A IENCI é uma revista de acesso aberto (Open Access), sem que haja a necessidade de pagamentos de taxas, seja para submissão ou processamento dos artigos. A revista adota a definição da Budapest Open Access Initiative (BOAI), ou seja, os usuários possuem o direito de ler, baixar, copiar, distribuir, imprimir, buscar e fazer links diretos para os textos completos dos artigos nela publicados.
O autor responsável pela submissão representa todos os autores do trabalho e, ao enviar o artigo para a revista, está garantindo que tem a permissão de todos para fazê-lo. Da mesma forma, assegura que o artigo não viola direitos autorais e que não há plágio no trabalho. A revista não se responsabiliza pelas opiniões emitidas.
Todos os artigos são publicados com a licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional. Os autores mantém os direitos autorais sobre suas produções, devendo ser contatados diretamente se houver interesse em uso comercial dos trabalhos.