A PARTE QUE FALTA: CLITÓRIS E SUA (SUB)REPRESENTAÇÃO NA CIÊNCIA E NA EDUCAÇÃO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2024v29n2p365

Palavras-chave:

História e Filosofia da Ciência, Ensino de Biologia, Educação em Ciências, Epistemologia feminista, Sistema reprodutor feminino

Resumo

O clitóris é um órgão bastante invisibilizado ainda nos dias atuais, especialmente no ensino. Em vista disso, este trabalho teve como objetivo central propor uma sequência didática que evidencie a sub-representação do clitóris na ciência e no ensino. Para tanto, foram sistematizados aspectos históricos e anatomofisiológicos do clitóris, por meio de pesquisa bibliográfica em estudos que tratam do órgão, o que permitiu evidenciar aspectos de natureza da ciência nesse contexto, bem como (re)contextualizar aspectos da anatomia e fisiologia do clitóris para o ensino. Além disso, a análise de livros didáticos e de vídeos que se dizem aula tornou evidente a (sub)representação da anatomofisiologia do clitóris e de seu conhecimento científico. A partir dessas constatações, sustentamos que discutir os aspectos anatomofisiológicos e históricos do clitóris pode ser um meio para a abordagem da natureza da ciência em aulas de ciências e de biologia. Por fim, propôs-se uma sequência didática sobre o clitóris, destinada a professores de Ciências e de Biologia.

Biografia do Autor

  • Maria Eduarda de Melo Vieira, Universidade Federal de Santa Catarina
    Professora de Ciências na rede privada de ensino de Florianópolis desde 2022. Doutoranda em Educação Científica e tecnológica (PPGECT-UFSC). Mestra em Educação Científica e Tecnológica (2021) e Licenciada em Ciências Biológicas (2018) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Na educação, me interesso por muitas coisas. Pesquiso a tecnologia na educação a partir de uma perspectiva crítica. Em minhas andanças acadêmicas mantenho contato com assuntos relacionados à tecnologia, TDICS e suas relações com professores e estudantes. Integro os grupos A Ponte e Casulo. Estou associada à Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC) e Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio).
  • Matheus D'avila Schmitt, Universidade Federal de Santa Catarina
    Licenciado em Ciências Biológicas (2018), Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Educação Científica e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina (2021) e Doutorando pelo mesmo programa. É membro dos grupos de pesquisa "Casulo: pesquisa e educação em Ciências e Biologia" e "A Ponte: interligando a educação básica e o ensino superior no ensino de Ciências e Biologia". Também é membro da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC) e da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio). Tem interesse nas áreas de Formação de Professores, Currículo e Ensino de Biologia. Atua como professor de Ciências no município de Florianópolis em escola da rede estadual de ensino de Santa Catarina. 
  • Bruno Tavares, Universidade Federal de Santa Catarina
    Licenciado em Ciências Biológicas - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT/UFSC) - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atua como professor de Biologia em uma escola estadual de Santa Catarina, em São José.

Referências

Ainsworth, C. (2015). Sex redefined. Nature, 518, 288-291. https://doi.org/10.1038/518288a

Altmann, H. (2009). Educação sexual em uma escola: da reprodução à prevenção. Cadernos de Pesquisa, 39(136), 175-200. https://doi.org/10.1590/S0100-15742009000100009

Ampatzidis, G., Georgakopolou, D., & Kapsi, G. (2019). Clitoris, the unknown: what do postgraduate students of educational sciences know about reproductive physiology and anatomy? Journal of Biological Education, 55(3), 254-263. https://doi.org/10.1080/00219266.2019.1679658

Ampatzidis, G., & Armeni, A. (2022). Human reproduction in greek secondary education textbooks (1870s to Present). (2022). Current Research in Biology Education, 257-268. https://doi.org/10.1007/978-3-030-89480-1_20

Araujo, l. B., & Munchen, C. (2018). Os três momentos pedagógicos como estruturantes de currículos: algumas potencialidades. Alexandria Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, 11(1), 51-69. https://doi.org/10.5007/1982-5153.2018v11n1p51

Baskin, L., Shen, J., Sinclair, A., Cao, M., Liu, X., Liu, G., Isaacson, D., Overland, M., Li, Y., & Cunha, G. R. (2018). Development of the human penis and clitoris. Differentiation, 103, 74-85. https://doi.org/10.1016/j.diff.2018.08.001

Bizimana, N. (2010). Another way for lovemaking in Africa: Kunyaza, a traditional sexual technique for triggering female orgasm at heterosexual encounters. Sexologies, 19, 157-162. https://doi.org/10.1016/j.sexol.2009.12.003

Brochmann, N., & Dahl, E. S. (2017). Viva a vagina: tudo que você sempre quis saber. São Paulo, SP: Editora Paralela.

Campbell, B. (1976). Neurophysiology of the clitoris. In T. P. Lowry, & T. S. Lowry The clitoris. [S. l.]: Warren H. Green Inc.

Carvalho, F. A., & Polizel, A. L. (2018). O Escola Sem Partido e o discurso sobre uma suposta “ideologia de gênero”. Inter-Ação, 43(2), 600-614. https://doi.org/10.5216/ia.v43i2.48954

Carvalho, F. A. (2021). Marcando passos, a(r)mando lutas: o(s) feminismo(s) e outras “bio-logias” na compreensão dos gêneros e sexualidades. Revista de Ensino de Biologia, 14(1), 427-452. https://doi.org/10.46667/renbio.v14i1.480

Coelho, L. J., & Campos, L. M. L. (2015). Diversidade sexual e ensino de ciências: buscando sentidos. Ciência & Educação(Bauru), 21(4), 893-910. https://doi.org/10.1590/1516-731320150040007

Di Marino, V., & Lepidi, H. (2014). Anatomic Study of the Clitoris and the Bulbo-Clitoral Organ. Heidelberg, Germany: Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-04894-9

Dulci, T. M. S., & Queiroga Júnior, T. M. (2019). “Professores-YouTubers": análise de três canais do YouTube voltados para o ensino de História. Escritas do Tempo, 1(1), 4-29. https://doi.org/10.47694/issn.2674-7758.v1.i1.2019.0429

Eisenberg, J. F., McKay, G. M., & Jainudeen, M. R. (1971). Reproductive behavior of the asiatic elephant (Elephas maximus maximus L.). Journal Behavior, 38(3). Recuperado de https://www.jstor.org/stable/4533371?seq=1&cid=pdf-reference#references_tab_contents.

Elliott, K. J. (2003). The hostile vagina: reading vaginal discourse in a school health text. Sex Education, 3(2), 133-144. https://doi.org/10.1080/14681810309041

Fausto-Sterling, A. (2002). Dualismos em duelo. Cadernos Pagu, 17, 9-79. https://doi.org/10.1590/S0104-83332002000100002

Furlani, J. (2007). Sexos, sexualidades e gêneros: monstruosidades no currículo da educação sexual. Educação em Revista, 46, 269-285. https://doi.org/10.1590/S0102-46982007000200011

Gramowski, V. B. (2021). Entre tentativas de tutela e postura autônoma: relações de professores de Ciências com o livro didático. (Tese de doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/227169/PECT0478-T.pdf.

Heerdt, B., & Batista, I. de L. (2016). Questões de gênero e da natureza da ciência na formação docente. Investigações em Ensino de Ciências, 21(2), 30-51. https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2016v21n2p30

Hendges, A. P. B., & Santos, R. A. (2023). Relações entre gênero e Ciência-Tecnologia no ensino de ciências brasileiro: o que dizem as pesquisas? Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 23,1-25. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2023u3155

Hollewand, K. (2022). De complete clitoris: ontdekt, vergeten en genegeerd? Jaarboek nederlandse boekgeschiedenis, 29(1), 179-216. Recuperado de https://doi.org/10.5117/JNB2022.007.HOLL.

Kelling, J. A., Erickson, C. R., Pin, J., & Pin, P. G. (2019). Anatomical dissection of the dorsal nerve of the clitoris. Aesthetic Surgery Journal, 40(5), 541-547. Recuperado de https://academic.oup.com/asj/article/40/5/541/5643525.

Laqueur, T. (2001). Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos à Freud. Rio de Janeiro, RJ: Relume Dumará.

Levin, R. J. (2018). The clitoral activation paradox: claimed outcomes from different methods of its stimulation. Clinical Anatomy, 31(5), 650-660. https://doi.org/10.1002/ca.23192

Levin, R. J. (2019). The clitoris: an appraisal of its reproductive function during the fertile years. Clinical Anatomy, 33, 136-145. https://doi.org/10.1002/ca.23498

Levin, R. J. (2007). The human sexual response: similarities and differences in the anatomy and function of the male and female genitalia: are they a trivial pursuit or a treasure trove? In E. Janssen (Ed.). The Psychophysiology of Sex. Bloomington, United States of America: Indiana University Press. Recuperado de https://iupress.org/9780253348982/the-psychophysiology-of-sex/#generate-pdf

Lowry, T. P. (1976). Some notes on the etymology of the word clitoris. In: Lowry, T. P., & Lowry, T. S. The clitoris. [S. l.]: Warren H. Green Inc.

Lowry, T. P., & Lowry, T. S. (1976). The clitoris. [S. l.]: Warren H. Green Inc.

Mazloomdoost, D., & Pauls, R. N. (2015). A comprehensive review of the clitoris and its role in female sexual function. Sexual Medicine Reviews, 3(4), 245–263. https://doi.org/10.1002/smrj.61

McFarland, L. Z. (1976). Comparative anatomy of the clitoris. In T. P. Lowry, & T. S. Lowry. The clitoris. [S. l.]: Warren H. Green Inc.

MEC (2018). Base Nacional Comum Curricular. Secretaria de Educação Básica do MEC. Brasília, DF: MEC/SEB. Recuperado de http://basenacionalcomum.mec.gov.br/.

MEC (2024). Guia Digital Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD): obras didáticas. Secretaria de Educação Básica. Brasília, DF: MEC/SEB. Recuperado de https://pnld.nees.ufal.br/pnld_2024_objeto1_obras_didaticas/pnld_2024_objeto1_obras_didaticas_codigos_colecao.

Medina, M. N., Braga, M., & Rego, S. C. R. (2015). Ensinar ciências para alunos do século XXI: o uso de vídeo-aulas de ciências da natureza por alunos do ensino médio de uma escola pública federal. In Anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. (pp. 1-8). Águas de Lindoia, SP: Abrapec.

Melo, M. E. (2021). Vídeos que se dizem aulas de ciências da natureza no YouTube: construção de instrumento para análise didático-pedagógica. (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/229078

Melo, M. E., Duso, L. (2022). Utilização de vídeos educativos de biologia no youtube por estudantes do ensino médio. ETD - Educação Temática Digital, 24(1), 71–90. https://doi.org/10.20396/etd.v24i1.8665025

Moura, B. A. (2014). O que é natureza da ciência e qual sua relação com a história e filosofia da ciência?. Revista Brasileira de História da Ciência, 7(1), 32-46. https://doi.org/10.53727/rbhc.v7i1.237

Mourão, I. A. C. F. História genealógica do conceito de homologia: uma análise filomemética. (Dissertação de mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo. Recuperado de https://teses.usp.br/teses/disponiveis/38/38131/tde-08032017-112112/publico/DissertacaodeIgorMourao.pdf.

Muenchen, C., & Delizoicov, D. (2014). Os três momentos pedagógicos e o contexto de produção do livro "Física". Ciência & Educação (Bauru), 20(3), 617-638. https://doi.org/10.1590/1516-73132014000300007

O’Connel, H. E., Eizenberg, N., Rahman, M., & Cleeve, J. (2008). The anatomy of the distal vagina: towards unity. The Journal of Sexual Medicine, 5, 1883-1891. https://doi.org/10.1111/j.1743-6109.2008.00875.x

O’Connel, H. E., Hutson, J. M., Anderson, C. R., & Plenter, R. J. (1998). Anatomical relationship between urethra and clitoris. The journal of urology, 159, 1892-1897. https://doi.org/10.1016/S0022-5347(01)63188-4

O’Connel, H. E., Sanjeevan, K. V., & Hutson, J. M. (2005). Anatomy of the clitoris. Journal of urology, 174, 1189-1195. https://doi.org/10.1097/01.ju.0000173639.38898.cd

Peduzzi, L. O. Q., & Raicik, A. C. (2020). Sobre a natureza da ciência: asserções comentadas para uma articulação com a história da ciência. Investigações em Ensino de Ciências, 25(2), 19-55. https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2020v25n2p19

Pereira, T. T., & Sierra, J. C. (2020). Uma ficção biológico-conservadora: discursos de ódio contra as dissidências sexuais e de gênero e seus impactos na educação. Revista Retratos da Escola, 14(28), 39 56. https://doi.org/10.22420/rde.v14i28.1099

Pérez, D. G., Montoro, I. F., Alís, J. C., Cachapuz, A. ,& Praia J. (2001). Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação (Bauru), 7(2), 125-153. https://doi.org/10.1590/S1516-73132001000200001

Puppo, V. (2011). Anatomy of the clitoris: revision and clarifications about the anatomical terms for the clitoris proposed (without scientific bases) by Helen O’Connell, Emmanuele Jannini, and Odile Buisson. ISRN Obstetrics and Gynecology, 1-5. https://doi.org/10.5402/2011/261464

Ramos, M. C. (2018). Precisamos falar sobre o clitóris na escola: investigando representações de estudantes de graduação em biologia acerca do clitóris. (Trabalho de Conclusão de Curso). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC. Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/188062

Roughgarden, J. (2004). Evolution's rainbow: diversity, gender and sexuality in nature and people. California, United States of America: University of California Press. Recuperado de https://www.ucpress.edu/book/9780520280458/evolutions-rainbow

Schiebinger, L. (2001). O feminismo mudou a ciência? Bauru, SP: Edusc.

Slongo, I. I. P., & Delizoicov, D. (2003). Reprodução humana: abordagem histórica na formação dos professores de Biologia. Contrapontos, 3(3), 435-447. Recuperado de http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/setembro2013/ciencias_artigos/historia_ciencia_reproducao.pdf.

Stromquist, L. (2018). A origem do mundo: uma história cultural da vagina ou a vulva vs. o patriarcado. São Paulo, SP: Quadrinhos na Cia.

Tavares, B., Ramos, M. B., & Mohr, A. (2021). Anne Fausto-Sterling e o espectro de sexo/gênero: contribuições para a educação em ciências e biologia. Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio, 14(1), 410–426. https://doi.org/10.46667/renbio.v14i1.494

Tavares, B. A biologia que não ousa dizer seu nome: olhares pós-dualistas para pesquisas nos temas gênero e sexualidade na Educação em Ciências. (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/240925

Uloko, M. D., Isabey, E. P., & Peters, B. R. (2023). How many nerve fibers innervate the human glans clitoris: a histomorphometric evaluation of the dorsal nerve of the clitoris. The Journal of Sexual Medicine, 20(3), 247-252. https://doi.org/10.1093/jsxmed/qdac027

Downloads

Publicado

2024-09-10

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Melo, M. E., Schmitt, M., & Tavares, B. (2024). A PARTE QUE FALTA: CLITÓRIS E SUA (SUB)REPRESENTAÇÃO NA CIÊNCIA E NA EDUCAÇÃO. Investigações Em Ensino De Ciências, 29(2), 365-393. https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2024v29n2p365