DIÁLOGOS ENTRE A ASTROFÍSICA OFICIAL E OS CONHECIMENTOS DOS YANOMAMI E DE OUTRAS CULTURAS: O QUE HÁ DE COMUM É CASUAL?

Resumen

A motivação para as reflexões feitas neste artigo surge com os movimentos crescentes de negação dos conhecimentos científicos, tema central proposto para o International Historical Philosophical Science Teaching Latin American (IHPSTLA) de 2023. Em um mundo marcado por grandes desigualdades sociais e desafios causados pela exploração ambiental capitalista, buscamos contribuir com potencialidades que o campo da História, Filosofia e Sociologia das Ciências pode trazer para o Ensino de Ciências nos enfrentamentos aos movimentos negacionistas. Partimos de abordagens de possíveis pontos de convergência entre os conhecimentos do povo Yanomami e os da Ciência ocidental, envolvendo cosmogenias hegemônicas e a desse povo originário, sem tratar as diferentes produções de conhecimento como únicas ou semelhantes. Entendemos que, ao valorizar outras cosmopercepções, promovemos um ensino com maior justiça social e que combate as violações aos direitos humanos desse povo vulnerabilizado. O conjunto de atividades aqui apresentado, e ainda em desenvolvimento em um curso de licenciatura em Física de uma Universidade pública do Rio de Janeiro, surgiu de um projeto mais amplo voltado para a formação inicial integrando Educação em Ciências e Educação em Direitos Humanos. Uma vez que a construção teórico-metodológica vem acontecendo de forma dinâmica e cíclica e que a proposta conta com a participação de todos os sujeitos envolvidos no processo, escolhemos a pesquisa-ação como referencial metodológico para o desenvolvimento da pesquisa. As atividades, desenvolvidas junto aos licenciandos, envolveram diálogo entre culturas, discussões sobre o papel das imagens e dos sonhos nas diferentes formas de produção de conhecimento e a elaboração de projetos pedagógicos como forma de avaliação. Nos projetos criados pelos estudantes, encontramos o reconhecimento de que as ações dos povos originários caminham para a preservação das condições de vida nas florestas e no planeta Terra de forma mais ampla. Como resultado, destacamos o surgimento de oportunidades pedagógicas trazidas pelo tema para discutir questões acerca da Natureza da Ciência, uma vez que o reconhecimento pelos alunos de conhecimentos diferentes do cientificamente aceito é obscurecido pela forma rígida como as metodologias científicas lhes são comumente apresentadas. Ressaltamos ainda que as relações entre conhecimentos de diferentes origens culturais para o Ensino de Ciências precisam ser aprofundadas e cada vez mais discutidas no âmbito da formação inicial e das práticas docentes.