UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A SOCIALIZAÇÃO DO HABITUS NA TRAJETÓRIA DE VIDA: UM OLHAR MAIS AMPLO PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS
DOI:
https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2024v29n3p260Palavras-chave:
socialização, formação de professores, habitus, capital cultural, gêneroResumo
Nos últimos anos, debates em todo o mundo buscam aprimorar a formação de professores na área de Ensino de Ciências. Entretanto, muitos desses discursos têm enfatizado soluções de natureza mercadológica, propondo a ideia de "eficiência” e “flexibilidade". Por outro lado, a concepção da formação dos professores de ciências como um processo contínuo, ao longo da trajetória de vida, tem sido negligenciada para além dos estudos universitários. Isso ocorre porque a influência desse processo mais amplo na socialização da prática docente, refletida na sala de aula de ciências, não é absolutamente clara. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é entender a relação entre elementos do habitus de professores de ciências do ensino básico com seus respectivos processos de socialização ao longo de sua trajetória de vida, levando em conta diversos espaços sociais. Como pano de fundo teórico e metodológico utilizou-se a teoria de Pierre Bourdieu, suas concepções sobre a prática social dos agentes pelo estudo do habitus e capitais. Nesta pesquisa foram estudados 16 professores das áreas de ciências (Biologia, Física, Química e Ciências) do ensino básico brasileiro. Caracterizando-se como uma pesquisa qualitativa, utilizou-se para a investigação um questionário e entrevistas semi-estruturadas, sendo os dados analisados por meio da Análise de Correspondências Múltiplas (ACM). O estudo identificou padrões significativos que refletem as complexas dinâmicas sociais, especialmente relacionadas aos capitais cultural e econômico. Observa-se uma clara dicotomia entre abordagens "bancárias" e "dialógicas", influenciadas pelas experiências de socialização dos professores. Além disso, a socialização do gênero na incorporação do habitus dos professores de ciências é fundamental para compreender a sua prática social. O artigo também sugere áreas para pesquisas futuras, incluindo a influência dos estudantes no processo de socialização e estudos comparativos entre diferentes contextos educacionais e culturais. Conclui-se enfatizando a importância de formular novas dinâmicas nos programas de formação de professores de ciências para promover uma educação verdadeiramente emancipatória para os professores.Referências
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