QUAL CIÊNCIA É NEGADA NAS REDES SOCIAIS? REFLEXÕES DE UMA PESQUISA ETNOGRÁFICA EM UMA COMUNIDADE VIRTUAL NEGACIONISTA
DOI:
https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2022v27n1p435Palabras clave:
Negacionismo científico, Bolsonarismo, Pós-verdade, Desinformação, TwitterResumen
Considerando o contexto histórico da pós-verdade no qual nos inserimos, que possui como uma de suas características movimentos de ataque à credibilidade da ciência inflados em redes sociais por motivações políticas de líderes extremistas, buscamos nessa pesquisa analisar como esse discurso pode influenciar as concepções sobre a construção do conhecimento científico dos usuários das redes sociais digitais. Realizamos uma etnografia no Twitter, acompanhando uma comunidade de usuários comumente associada ao negacionismo, contendo o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e seus aliados. Encontramos quatro categorias de discurso dos usuários, que denominamos: a ciência versus “ciência”; uma correlação egocentrada de variáveis; um pedido excessivo de fontes; e para além da crença imediata. Essas categorias mostram concepções que envolvem a ideia da existência de uma ciência neutra, a construção de uma forma de conhecimento que não busca estruturar generalizações e uma ausência de análise crítica própria do usuário. Defendemos que compreender como o ataque à ciência é propagado nas redes sociais e como os discursos negacionistas influenciam as concepções sobre ciência e construção do conhecimento científico é essencial para se pensar em estratégias específicas de letramento científico e, deste modo, trazemos argumentos e reflexões sobre tais aspectos no contexto da pós-verdade frente ao combate à proliferação massiva de desinformação nas redes.Referencias
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