FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES VIABILIZADA PELA APROXIMAÇÃO ENTRE ESCOLA E UNIVERSIDADE: UMA NARRATIVA HISTÓRICA DAS EXPERIÊNCIAS DA INICIATIVA NUPIC (USP)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2021v26n3p102

Palavras-chave:

Formação Continuada de Professores, Comunidades de Prática, Ensino de Física

Resumo

Diante das atuais necessidades educativas brasileiras, é premente que a Formação Continuada de Professores ampare a criação e discussão de práticas docentes de maneira coletiva na interface entre Escola e Universidade. Além das necessárias reflexões teóricas sobre o tema, consideramos que se faz necessário investigar iniciativas implementadas na prática que tenham sido bem-sucedidas. No escopo deste trabalho, estudamos o contexto de criação de ações educativas para a Educação Básica fomentadas pelo esforço conjunto de docentes desse nível de ensino e pesquisadores universitários. Com este intuito, realizamos uma pesquisa educacional de caráter histórico em torno das experiências de interlocução entre Escola e Universidade vividas pelos participantes do Núcleo de Pesquisas em Inovação Curricular (Nupic) da Universidade de São Paulo no período de 2003 a 2013. Com base no referencial teórico da Teoria Social da Aprendizagem de Etienne Wenger, construímos uma narrativa histórica capaz de situar práticas constituídas no grupo, e evidenciar dois modelos de Formação Continuada de Professores, que permitiram distintas relações entre as instituições escolar e universitária. O primeiro modelo foi pautado na cooperação entre professores de Física da Educação Básica e pesquisadores em Ensino de Física, o que favoreceu a sua existência como uma Comunidade de Prática engajada na negociação de conhecimentos entre diferentes profissionais. O segundo, por sua vez, esteve voltado à transmissão de conhecimentos para a formação de professores capazes de difundir os materiais e conhecimentos produzidos pelo grupo. A transição entre esses modelos ocasionou uma atenuação no compromisso comunitário que envolvia docentes e pesquisadores, criando restrições à continuidade da ligação entre Escola e Universidade que promoviam.

Referências

Barcelos, N. N. S., & Villani, A. (2006). Troca entre Universidade e Escola na Formação Docente: uma experiência de Formação Inicial e Continuada. Ciência & Educação (Bauru), 12(1), 73-97. http://doi.org/10.1590/S1516-73132006000100007

Bardin, L. (2011). Análise de Conteúdo. (Trad. L. A. Reto e A. Pinheiro). São Paulo, SP: Edições 70.

Brown, J. S., & Duguid, P. (1991). Organizational Learning and Communities-of-Practice: Toward a Unified View of Working, Learning, and Innovation. Organization Science, 2(1), 40-57.

Constituição do Estado de São Paulo. (1989). Recuperado de http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/constituicao/1989/compilacao-constituicao-0-05.10.1989.html.

Cox, A. (2005). What are communities of practice? A comparative review of four seminal works. Journal of Information Science, 31(6), 527–540. http://doi.org/10.1177/0165551505057016

Christov, L. H. S. (1998). Educação continuada: função essencial do coordenador pedagógico. In A. A. Guimarães, C. H. Mate, E. B. G. Bruno, F. C. B. Vilela, L. R. Almeida, L. H. S. Christov ... V. M. N. S. Placco. O coordenador pedagógico e a educação continuada. São Paulo, SP: Loyola.

El-Hani, C. N., & Greca, I. M. (2011). Participação em uma comunidade virtual de prática desenhada como meio de diminuir a lacuna pesquisa-prática na Educação em biologia. Ciência & Educação (Bauru), 17(3), 579–601. http://doi.org/10.1590/S1516-73132011000300005

El-Hani, C. N., & Greca, I. M. (2013). ComPratica: A Virtual Community of Practice for Promot-ing Biology Teachers’ Professional Development in Brazil. Research in Science Education, 43(4), 1327-1359. http://doi.org/10.1007/s11165-012-9306-1

Eylon, B.-S., & Bagno, E. (2006). Research-design model for professional development of teachers: Designing lessons with physics education research. Physical Review Special Topics - Physics Education Research, 2(2), 1-14. http://doi.org/10.1103/PhysRevSTPER.2.020106

Freitas, Z. L., Carvalho, L. M. O. de, & Oliveira, E. R. de. (2012). Educação de professores da universidade no contexto de interação Universidade-Escola. Ciência & Educação (Bauru), 18(2), 323-334. http://doi.org/10.1590/S1516-73132012000200006

Freitas, D. de, & Villani, A. (2002). Formação de professores de ciências: um desafio sem limites. Investigações em Ensino de Ciências, 7(2), 215-230.

Gatti, B. A., & Barreto, E. S. de S.. (2009). Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO. http://doi.org/10.1590/S0100-15742010000100018

Johnson, B., & Christensen, L. (2008). Educational Research: Quantitative, Qualitative and Mixed Approaches. (3rd Eed.). California, United States of America: SAGE Publications Inc.

Herman, G., Greene, J. C., Hahn, L. D., Mestre, J. P., Tomkin, & J. H., West, M. (2018). Changing the Teaching Culture in Introductory STEM Courses at a Large Research University. Journal of College Science Teaching, 47(6), 32-38.

Lave, J., & Wenger, E. (1991). Situated Learning: Legitimate Peripheral Participation. Cambridge, England: Cambridge Univertity Press. http://doi.org/10.1017/CBO9780511815355

Lei Orgânica nº 5.918, de 18 de outubro de 1960. (1960). Autoriza o Poder Executivo a instituir a “Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo", e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de São Paulo. São Paulo, SP: Diário Oficial do Estado de São Paulo. Recuperado de https://www.al.sp.gov.br/norma/40894.

Li, L. C., Grimshaw, J. M., Nielsen, C., Judd, M., Coyte, P. C., & Graham, I. D. (2009). Use of communities of practice in business and health care sectors: A systematic review. Implementation Science, 27(4), 1-8. http://doi.org/10.1186/1748-5908-4-27

Lima, K. E. C., & Vasconcelos, S. D. (2008). O professor de Ciências das escolas municipais de Recife e suas perspectivas de Educação Permanente. Ciência & Educação (Bauru), 14(2), 347-364. http://doi.org/10.1590/S1516-73132008000200012

MEC – Ministério da Educação. (2007). Censo do Professor. Recuperado de http://portal.mec.gov.br/plano-nacional-de-formacao-de-professores/censo-do-professor.

McIntyre, D. (2005). Bridging the gap between research and practice. Cambridge Journal of Education, 35(3), 357-382. http://doi.org/10.1080/03057640500319065

Mega, D. F., Araujo, I. S., & Veit, E. A. (2020). Centro de Tecnologia Acadêmica da UFRGS como Comunidade de Prática e possibilidade de criação de espaços não formais de aprendizagem: um estudo etnográfico. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte), 22. http://doi.org/10.1590/21172020210128

Mega, D. F., Souza, D. G. de, Vera Rey, E. A., & Veit, E. A. (2020). Comunidades de Prática no Ensino de Ciências: uma revisão da literatura de 1991 a 2018. Revista Brasileira de Ensino de Física, 42, s.p. http://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2019-0264

Moriconi, G. M., Davis, C. L. F., Tartuce, G. L. B. P., Nunes, M. M. R., Esposito, Y. L., Simielli, L. E. R., & Teles, N. C. G. (2017). Formação continuada de professores: contribuições da literatura baseada em evidências. São Paulo, SP: Fundação Carlos Chagas.

Nardi, R. (2005). Memórias da Educação em Ciências no Brasil: a Pesquisa em Ensino de Física. Investigações em Ensino de Ciências, 10(1), 63-101.

Nupic. (2002). Núcleo de Pesquisas em Inovação Curricular. Recuperado de http://nupic.fe.usp.br.

Oliveira, H. L. G., & Leiro, A. C. R. (2019). Políticas de formação de professores no Brasil: referenciais legais em foco. Pro-Posições, 30, 1-26. http://doi.org/10.1590/1980-6248-2017-0086

Ostermann, F., & Moreira, M. A. (1998). Tópicos de física contemporânea na escola média brasileira: um estudo com a técnica Delphi. In Atas do VI Encontro de Pesquisa em Ensino de Física. Florianópolis: Imprensa UFSC.

Rodrigues, C. G., Krüger, V., & Soares, A. C. (2010). Uma hipótese curricular para a formação continuada de professores de Ciências e Matemática. Ciência & Educação (Bauru), 16(2), 415-426. http://doi.org/10.1590/S1516-73132010000200010

Sauerwein, I. P. S., & Delizoicov, D. (2008). Formação Continuada de Professores de Física do Ensino Médio: Concepções de Formadores. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 25(3), 439–477. http://doi.org/10.5007/2175-7941.2008v25n3p439

SEE/SP - Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. (2009). USP oferece cursos de física para professores da rede estadual. Recuperado de http://www.educacao.sp.gov.br/usp-oferece-cursos-de-fisica-para-professores-da-rede-estadual/.

SEE/SP - Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. (2011). Currículo do Estado de São Paulo: Ciências da Natureza e suas tecnologias. São Paulo, SP: Secretaria de Educação.

Silva, J. A. da, & Bartelmebs, R. C. (2011). A Comunidade de Prática como Possibilidade de Inovações na Pesquisa em Ensino de Ciências nos Anos Iniciais. Acta Scientiae, 15(1), 191–208.

Souza, D. G. de, Vera Rey, E. A., Araujo, I. S., & Veit, E. A. (2019). Recursos Educacionais Abertos para o Ensino de Física: um curso de extensão para licenciandos brasileiros e colombianos. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 36(3), 795-817. http://doi.org/10.5007/2175-7941.2019v36n3p795

Souza, D. G. de, & Veit, E. A. (2020). Interlocução Escola-Universidade: uma experiência de construção colaborativa de sequências didáticas. In Atas do XVIII Encontro de Pesquisa em Ensino de Física. Online. Recuperado de http://www1.fisica.org.br/~epef/xviii/images/Anais_XVIII-EPEF.pdf.

Swanson, L. H., & Coddington, L. R. (2016). Creating partnerships between teachers & undergraduates interested in secondary math & science education. Teaching and Teacher Education, 59, 285–294. http://doi.org/10.1016/j.tate.2016.06.008

Tallman, K. A., & Feldman, A. (2016). The Use of Journal Clubs in Science Teacher Education. Journal of Science Teacher Education, 27(3), 325–347.

Vera Rey, E. A., Araujo, I. S., & Veit, E. A. (2020). Acciones para el cultivo de una Comunidad de Práctica de profesores de Física: análisis de los procesos de participación periférica legítima através de un curso virtual sobre Recursos Educativos Abiertos para la enseñanza de la Física. Uni-Pluriversidad, 20(1), 127-149. http://doi.org/10.17533/udea.unipluri.20.1.08

Wenger, E. (2001).. Comunidades de Práctica: aprendizaje, significado e identidad. (Trad. G. S. Barberán) Barcelona, España: Paidós.

Wenger, E. (2009). Capacidade social de aprendizagem: quatro ensaios sobre inovação e aprendizagem em sistemas sociais. Recuperado de http://wenger-trayner.com/resources/

Wenger, E., McDermott, R., & Snyder, W. M. (2002). Cultivating Communities of Practice: a guide to managing knowledge. Boston, Massachusetts: Harvard Business School Press.

Zeichner, K. M. (2008). Uma análise crítica sobre a “reflexão” como conceito estruturante na formação docente. Educação & Sociedade, 29(103), 535-554. http://doi.org/10.1590/S0101-73302008000200012

Downloads

Publicado

2021-12-30

Como Citar

Souza, D. G. de, Araujo, I. S., & Veit, E. A. (2021). FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES VIABILIZADA PELA APROXIMAÇÃO ENTRE ESCOLA E UNIVERSIDADE: UMA NARRATIVA HISTÓRICA DAS EXPERIÊNCIAS DA INICIATIVA NUPIC (USP). Investigações Em Ensino De Ciências, 26(3), 102–133. https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2021v26n3p102

Edição

Seção

Artigos