REPENSANDO “O BIOLÓGICO” NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS: CONTRIBUIÇÕES DE BIOLOGIAS FEMINISTAS PÓS-DUALISTAS
DOI:
https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2024v29n2p309Palabras clave:
Diferença Sexual, Educação Sexual, Epistemologia Feminista, Feministas Biólogas, Sexo/gêneroResumen
Este ensaio teórico tem como objetivo apresentar e discutir elementos teóricos pós-dualistas com foco nas feministas biólogas, visando repensar discussões sobre "o biológico" na área de pesquisa em Educação em Ciências. Dentre outros aspectos, essa investigação se justifica, tendo em vista a necessidade de discussões de natureza teórica na área em questão. De início, discute-se sobre aspectos do debate natureza-cultura para, em seguida, abordarmos os conceitos de gênero e sexo através de uma trajetória temporal. Posteriormente, apresentamos reflexões acerca das biologias de tradição no que concerne às discussões de sexo e gênero, bem como a emergência de biologias pós-dualistas no trato dessas temáticas. Por fim, destacamos que as perspectivas pós-dualistas tem potencialidade para dotar as pesquisas da área de Ensino de Ciências e nossa atuação docente com novos conceitos e abordagens, não inteligíveis em contexto dualista, como é o caso dos conceitos de sexo/gênero e corporificação social, os quais expressam um emaranhamento entre corpo biológico e social. Além disso, as biologias feministas pós-dualistas podem nos auxiliar na discussão de temáticas que envolvam aspectos anatomofisiológicos e sexo/gênero, de maneira vigilante aos determinismos (biológicos ou sociais), e sem tratar “o biológico” como enrijecido ou de forma pejorativa.Referencias
Andrade, F. L. (2016). Biologia e gênero na escola: um diálogo ainda marcado por reducionismo, determinismo e sexismo. Curitiba, PR: Appris.
Bandeira, A., & Velozo, E. L. (2019). Livro didático como artefato cultural: possibilidades e limites para as abordagens das relações de gênero e sexualidade no Ensino de Ciências. Ciência & Educação (Bauru), 25(4), 1019-1033. https://doi.org/10.1590/1516-731320190040011
Barros, C. M. M. de, & Silva, M. B. e. (2023). Biológico e social andam juntos: como a genética pode nos ajudar a entender a complexidade da constituição de sexo/gênero. Genética na Escola, 18(1), 7–14. https://doi.org/10.55838/1980-3540.ge.2023.481
Batista, I. L., Torejani, A. T. C., Heerdt, B., Lucas, L. B., Ohira, M. A., Corrêa, M. L., Barbosa, R. G., & Bastos, V. C. (2011). Gênero feminino e formação de professores na pesquisa em educação científica e matemática no Brasil. In Anais do VIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. Campinas, SP, Brasil. Recuperado de https://www.uel.br/grupo-pesquisa/ifhiecem/arquivos/BATISTA%20et%20al%202011.pdf
Birke, L. (2003). Shaping Biology: feminism and the idea of the ‘the biological’. In S. J. Williams, L. Birke, & G. A. Bendelow (Eds.), Debating Biology: sociological reflections on health, medicine and society (pp. 39-51). New York, United States of America: Routledge.
Blach, F. B., & Giri, L. (2019). It’s a Male World: el sesgo sexual de los modelos animales en biología. Arbor, 195(791), 1-10. https://doi.org/10.3989/arbor.2019.791n1005
Botelho, J. F. (2011). Teoria dos sistemas de desenvolvimento e autopoiese. In J. Cofre & K. Saafeld. (Eds.), Discussão de novos paradigmas: vida, embriologia e evolução. Florianópolis, SC: EdUFSC.
Butler, J. (2017). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. (15a Ed.). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira.
Caponi, S. (2007). Da herança à localização cerebral: sobre o determinismo biológico de condutas indesejadas. Physis: Revista de Saúde Coletiva,17(2), 343-352. https://doi.org/10.1590/S0103-73312007000200008
Carvalho, F., & Lorencini, Á. J. (2018). Os discursos biológicos para os gêneros, as sexualidades e as diferenças no Brasil: um panorama histórico. Revista Valore, 3, 575-586. https://doi.org/10.22408/reva302018149575-586
Carvalho, F. A. (2021). Marcando passos, a(r)mando lutas: o(s) feminismo(s) e outras “bio-logias” na compreensão dos gêneros e sexualidades. Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio, 14(1), 427-452. https://doi.org/10.46667/renbio.v14i1.480
Chanter, T. (2011). Gênero: conceitos-chave em filosofia. Porto Alegre, RS: Artmed.
Citeli, M. T. (2001). Fazendo diferenças: teorias sobre gênero, corpo e comportamento. Revista Estudos Feministas, 9(1), 131–145. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2001000100007
Connell, R., & Pearse, R. (2015). Gênero: uma perspectiva global. São Paulo, SP: nVersos.
Davis, N. (2009). New Materialism and Feminism’s Anti-Biologism: A Response to Sara Ahmed. European Journal of Women’s Studies, 16(1), 67–80. https://doi.org/10.1177/1350506808098535
Fausto-Sterling, A. (2000). The sex/gender perplex. Studies in History and Philosophy of Science, 31(4), 637-646. https://doi.org/10.1016/S1369-8486(00)00003-0
Fausto-Sterling, A. (2002). Dualismos em duelo. Cadernos Pagu, (17/18), 9–79. https://doi.org/10.1590/S0104-83332002000100002
Fausto-Sterling, A. (2003). The problem with sex/gender and nature/nurture. In S. J. Williams, L. Birke, & G. A. Bendelow (Eds.), Debating Biology: sociological reflections on health, medicine and society (pp. 39-51). New York, United States of America: Routledge.
Fausto-Sterling, A. (2012). Sex/gender: biology in a social world. New York, United States of America: Routledge.
Fausto-Sterling, A. (2019). Gender/Sex, Sexual Orientation, and Identity Are in the Body: How Did They Get There?, The Journal of Sex Research, 56(4-5), 529-555. https://doi.org/10.1080/00224499.2019.1581883
Fausto-Sterling, A. (2020). Sexing the body: gender politics and the construction of sexuality. Updated Edition. New York, United States of America: Basic Books.
Gamble, C. N., Hanan, J. S, & Nail, T. (2019). What is new materialism? Journal of the Theoretical Humanities, 24(6), 111-134. https://doi.org/10.1080/0969725X.2019.1684704
Giffin, K. M. (2006). Produção do conhecimento em um mundo "problemático": contribuições de um feminismo dialético e relacional. Revista Estudos Feministas, 14(3), 635–653. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2006000300004
Hames, C., & Kemp, A. (2019). Diversidade de Gênero e Sexualidade no processo formativo docente. Revista Insignare Scientia - RIS, 2(1), 67-74. https://doi.org/10.36661/2595-4520.2019v2i1.10664
Haraway, D. (2004). "Gênero" para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra. Cadernos Pagu, (22), 201–246. https://doi.org/10.1590/S0104-83332004000100009
Harding, S. (1993). A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista. Revista Estudos Feministas, 1(1), 7. https://doi.org/10.1590/%x
Heerdt, B., Santos, A. P. O. dos, Bruel, A. D. C. B. D. O., Ferreira, F. M., Anjos, M. D. A. C. dos, Swiech, M. J., & Banckes, T. (2018). Gênero no ensino de Ciências publicações em periódicos no Brasil: o estado do conhecimento. Revista Brasileira de Educação em Ciências e Educação Matemática, 2(2), 217–241. https://doi.org/10.33238/ReBECEM.2018.v.2.n.2.20020
Ingold, T. (1995). Humanidade e Animalidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 28(10), 39–54. Recuperado de http://www.iea.usp.br/eventos/destaques/ingold-humanidade
Jaggar, A. M., & Bordo, S. R. (1997). Gênero, corpo, conhecimento. Rio de Janeiro, RJ: Rosa dos Ventos.
Jagger, G. (2015). The new materialism and sexual difference. Signs, 40(2), 321–342. https://doi.org/10.1086/678190
Junior, A. R. G. (2014). Identidade cirúrgica: o melhor interesse da criança intersexo portadora de genitália ambígua. (Tese de Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ. Recuperado de https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/36072
Keller, E. F. (2010). The mirage of a space between nature and nurture. Durham & London, United States of America: Duke University Press. https://doi.org/10.1215/9780822392811
Laland, K. N., Uller, T., Feldman, M. W., Sterelny, K., Müller, G. B., Moczek, A., Jablonka, E., & Odling-Smee J. (2015). The extended evolutionary synthesis: its structure, assumptions and predictions. Proceeding os the Royal Society – Biological Sciences, 282(201510192), 1– 14.
http://doi.org/10.1098/rspb.2015.1019
Lewontin, R. (2000). Biologia como ideologia: a doutrina do DNA. Ribeirão Preto, SP: Funcitec.
Maia, M. F. G. (2023). A produção de conhecimento em gênero e sexualidade no ensino de biologia no Brasil: uma revisão sistemática (1996-2022). (Tese de Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. Recuperado de https://repositorio.uft.edu.br/handle/11612/5584
Marin, Y. A. O., & Manus, S. G. (2022). Género y biologia, cultura y naturaleza: dualismos a cuestionar para una educación en biologia transgressora. Revista Interdisciplinar em Ensino e Ciências e Matemática, 2(2), 14–24. https://doi.org/10.20873/riecim.v2i2.15460
Manus, S. F. G. (2021). Formas de (no) trascender la dicotomía Naturaleza-Cultura: Del aplanamiento ontológico a la despolitización de lo social. In A. Barahona, M. C. López, & F. Vergara. Biofilosofías para el Antropoceno: La teoría de construcción de nicho desde la filosofía de la Biología y la Bioética (pp. 187-207). Ciudad de México, México: Heúresis. Recuperado de https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-03731379/document
Meloni, M. (2014). How Biology Became Social, and What it Means for Social Theory. The Sociological Review, 62(3), 593–614. https://doi.org/10.1111/1467-954X.12151
Muehlenhard, C.L., & Peterson, Z.D. (2011). Distinguishing Between Sex and Gender: History, Current Conceptualizations, and Implications. Sex Roles, 64, 791–803. https://doi.org/10.1007/s11199-011-9932-5
Nicholson, L. (2000). Interpretando gênero. Revista Estudos Feministas, 8(2), 9-41. https://doi.org/10.1590/%25x
Nucci, M. (2015). "Não chore, pesquise!": Reflexões sobre sexo, gênero e ciência a partir do neurofeminismo. (Tese de doutorado). Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ. Recuperado de http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/4748
Nucci, M. (2018). Crítica feminista à ciência: das “feministas biólogas” ao caso das “neurofeministas”. Revista Estudos Feministas, 26(1), 1-14. https://doi.org/10.1590/%25x
Nucci, M. (2019). Neurocientistas feministas e o debate sobre o “sexo cerebral”: um estudo sobre ciência e sexo/gênero. Em construção: arquivos de epistemologia histórica e estudos de ciência, 5, 37-49. https://doi.org/10.12957/emconstrucao.2019.37439
Oka, M., & Laurenti, C. (2018). Entre sexo e gênero: um estudo bibliográfico-exploratório das ciências da saúde. Saúde e Sociedade, 27(1), 238–251. https://doi.org/10.1590/S0104-12902018170524
Oliveira, T.B., Brando, F.R., Kohlsdorf, T., & Caldeira, A.M.A. (2016). Eco-Evo-Devo: uma (re)leitura sobre o papel do ambiente no contexto das Ciências Biológicas. Filosofia e História da Biologia, 11(2), 323-346. Recuperado de https://www.abfhib.org/FHB/FHB-11-2/FHB-11-2-Thais-Oliveira_Fernanda-Brando_Tiana-Kohldorf_Ana-Caldeira.pdf
Ranniery, T. (2021). Gênero não tem cabimento nem nunca terá: ensino de biologia e a relação natureza cultura. Revista Educação e Cultura Contemporânea, 18(52),485-516. http//dx.doi.org/10.5935/2238-1279.20210022
Richardson, S. S. (2017). Plasticity and Programming: Feminism and the Epigenetic Imaginary. Signs: Journal of Women in Culture and Society, 43(1), 29-52. https://doi.org/10.1086/692446
Rodrigues, C. (2012). Performance, gênero, linguagem e alteridade: J. Butler leitora de J. Derrida. Sexualidad, Salud Y Sociedad (Rio De Janeiro), (10), 140–164. https://doi.org/10.1590/S1984-64872012000400007
Scott, J. (1995). Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, 20(2). Recuperado de https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721
Severino, A. J. (2007). Metodologia do trabalho científico. (23a. ed.). São Paulo, SP: Cortez.
Tavares, B., Ramos, M. B., & Mohr, A. (2021). Anne Fausto-Sterling e o espectro de sexo/gênero: contribuições para a educação em ciências e biologia. Revista De Ensino De Biologia Da SBEnBio, 14(1), 410–426. https://doi.org/10.46667/renbio.v14i1.494
Tavares, B. (2022). A biologia que não ousa dizer seu nome: olhares pós dualistas para pesquisas nos temas gênero e sexualidade na Educação em Ciências. (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/240925
Thorpe, H., & Clark, M. (2019). Gut Feminism, new materialisms and sportwomen’s embodied health: the case of RED-S in endurance athletes. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health, 12(1), 1–17. https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.1631879
Topp, S. S. (2010). Rhetorical Interactions of Social Movement Organizations in a Movement: A Study of the Intersex Rights Advocacy Movement. (Master's dissertation). Department of Communication Studies. University of Kansas. Recuperado de https://hdl.handle.net/1808/6984
van Anders, S. M. (2022). Gender/sex/ual diversity and biobehavioral research. Psychology of Sexual Orientation and Gender Diversity. Advance online publication. https://doi.org/10.1037/sgd0000609
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Bruno Tavares, Mariana Brasil Ramos, Adriana Mohr

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.
La IENCI es una revista de acceso libre (Open Access) y no hay cobro de ninguna tasa ya sea por el envío o procesamiento de los artículos. La revista adopta la definición de la Budapest Open Access Initiative (BOAI), es decir, los usuarios tienen el derecho de leer, descargar, copiar, distribuir, imprimir, buscar y hacer links directos a los textos completos de los artículos publicados en esta revista.
El autor responsable por el envío representa a todos los autores del trabajo y, al enviar este artículo para su publicación en la revista está garantizando que posee el permiso de todos para hacerlo. De igual manera, garantiza que el artículo no viola los derechos de autor y que no hay plagio en lugar alguno del trabajo. La revista no se responsabiliza de las opiniones emitidas en los artículos.
Todos los artículos de publican con la licencia Reconocimiento-NoComercial 4.0 Internacional (CC BY-NC 4.0). Los autores mantienen sus derechos de autor sobre sus producciones y deben ser contactados directamente en el caso de que hubiera interés en el uso comercial de su obra.