FORMAR PROFESSORES DE CIÊNCIAS NA ERA DA PÓS-VERDADE: O PAPEL DO DIÁLOGO COMO PRINCÍPIO MEDIADOR DO PROCESSO PEDAGÓGICO
DOI:
https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2024v29n3p43Palabras clave:
Pós-verdade, Formação de professores, TerraplanismoResumen
No presente trabalho, analisamos formas de mediação mobilizadas ao longo de uma unidade didática sobre formato da Terra em uma turma de primeiro semestre de licenciatura em Física. A pesquisa dialoga com os Estudos das Ciências de Bruno Latour e, sobretudo, com seu conceito de mediação, em suas quatro variações – interferência, composição, entrelaçamento de espaço-tempo e delegação. Mobilizamos ferramentas etnográficas para construção e análise de dados; a partir do uso de questionários, observação participante das aulas, coleta de artefatos produzidos na unidade, bem como registros de interações discursivas. Nossos resultados indicam que a composição dos estudantes com materiais de apoio, como instrumentos semióticos típicos da Física, bem como vídeos que discutiam o tema, permitiu uma ampliação das performances dos participantes tanto em sua dimensão epistêmica quanto política. Ademais, o uso de questionamentos como princípio pedagógico pelo docente formador, em detrimento de uma instrução diretiva, ampliou as oportunidades para que os licenciandos excedessem suas performances originais e as performances sugeridas pelo próprio docente, o que evidencia o potencial da pergunta enquanto mobilizador de novos modos de ação. Dessa forma, nosso trabalho aponta três conclusões para a promoção de um processo pedagógico na era da pós-verdade: i) o ensino e aprendizagem conceitual de modo entrelaçado a uma discussão sociopolítica, ii) a valorização do docente enquanto intelectual crítico, e iii) o privilégio do questionamento enquanto ferramenta promotora do diálogo na sala de aula.Referencias
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