HISTÓRIA E CONHECIMENTO EXPERIENCIAL DE PESSOAS NEGRAS NA FÍSICA E NAS CIÊNCIAS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
DOI:
https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2024v29n1p272Palabras clave:
Educação em Ciências., Ensino de Física, Relações étnico-raciais., Decolonialidade, Revisão da LiteraturaResumen
Este artigo traz uma revisão da literatura centrando-se nas trajetórias, histórias e experiências de cientistas e estudantes negros na Física e nas Ciências Naturais. Com base na Teoria Crítica da Raça e na Perspectiva Decolonial, o estudo problematiza as estruturas eurocêntricas, coloniais, racistas e patriarcais da ciência contemporânea, bem como a sub-representação da população negra, especialmente mulheres negras, nas Ciências Naturais e Físicas. A revisão teve o objetivo de investigar e analisar de que maneira histórias e conhecimentos experienciais de pessoas negras têm sido discutidos na área de pesquisa em Ensino de Física/Ciências. Foi definido o período 2003-2021 para busca dos artigos. A pesquisa, decorrente de uma dissertação de mestrado, classificou os achados em cinco categorias temáticas por meio da metodologia Análise Documental. A categoria temática escolhida para ser abordada neste artigo diz respeito às trajetórias e experiências de cientistas e estudantes negros e negras na Física e nas Ciências, e reuniu 11 artigos. A literatura aponta uma lacuna de pesquisa dessa problemática, principalmente na literatura nacional. Os artigos trazem as contribuições científicas africanas, as narrativas de mulheres negras nos Estados Unidos e os desafios enfrentados por estudantes negros e negras, apontando para a necessidade de descolonização epistêmica e inclusão equitativa no ensino de Física/Ciências. Os resultados mostram que pessoas negras na universidade sofrem com barreiras históricas na área, e mulheres negras têm desafios particulares que interseccionam raça e gênero. Alguns dos obstáculos relatados por estudantes negros e negras foram: falta de pertencimento ou sentimentos de isolamento, redução da autoeficácia, pouca representatividade de pessoas negras nas Ciências e reprodução de estereótipos de gênero e de raça. Destaca-se que o enfrentamento ao racismo e às demais opressões na academia deve envolver a valorização, o acolhimento, a inclusão, o incentivo e a divulgação dos trabalhos de cientistas e estudantes negros/negras na História da Ciência. A literatura também destaca a necessidade do combate sistêmico às desigualdades por meio de um processo de descolonização epistêmica no Ensino de Física/Ciências, colocando o conhecimento experiencial de pessoas negras no centro da discussão para que as estruturas opressivas possam ser compreendidas criticamente.Citas
Almeida, H. B. de, & Szwako, J. (2009). Diferenças, igualdade. São Paulo, SP: Berlendis & vertecchia.
Almeida, S. L. de. (2019). Racismo estrutural. São Paulo, SP: Sueli Carneiro; Pólen.
Alves-Brito, A. (2020). Os corpos negros: questões étnico-raciais, de gênero e suas intersecções na física e na astronomia brasileira. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), 12(34), 816–840. https://doi.org/10.31418/2177-2770.2020.v12.n.34.p816-840
Alves-Brito, A., Massoni, N. T., Guerra, A., & Macedo, J. R. (2020). Histórias (in)visíveis nas ciências. I. Cheikh Anta Diop: um corpo negro na física. Revista Da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), 12(31), 292–318. Recuperado de https://abpnrevista.org.br/site/article/view/791
Anteneodo, C., Brito, C., Alves-Brito, A., Alexandre, S. S., D’Avila, B. N., & Menezes, D. P. (2020). Brazilian physicists community diversity, equity, and inclusion: a first diagnostic. Physical Review Physics Education Research, 16(1), 010136. https://doi.org/10.1103/PhysRevPhysEducRes.16.010136
Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (1a ed.). São Paulo, SP: Edições 70.
Bento, C. (2022). O pacto da branquitude (1a ed.). São Paulo, SP: Companhia das Letras.
Bernardino-Costa, J. (2013). Colonialidade e interseccionalidade: o trabalho doméstico no Brasil e seus desafios para o século XXI. In T. D. Silva & F. L. Goes (Orgs.). Igualdade racial no Brasil: reflexões no Ano Internacional dos Afrodescendentes (pp.45-58). Brasília, DF: Ipea. Recuperado de https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/2531/1/Livro_Igualdade_racial_no_Brasil-reflex%C3%B5es_no_Ano_Internacional_dos_Afrodescendentes.pdf#page=46
Bernardino-Costa, J., Maldonado-Torres, N., & Grosfoguel, R. (2020). Introdução: decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. In J. Bernardino-Costa, N. Maldonado-Torres, & R. Grosfoguel (Eds.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico (pp.9-26). (2a ed.). Belo Horizonte, MG: Autêntica.
Carneiro, A. S. (2005). A construção do outro como não-ser como fundamento do ser (Tese de doutorado). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. Recuperado de https://repositorio.usp.br/item/001465832
Carneiro, S. (2017). Ennegrecer el feminismo. In R. C. Septien, & K. Bidaseca (Ed.). Más allá del decenio de los pueblos afrodescendientes (pp. 109-115). CLACSO. https://doi.org/10.2307/j.ctv253f4nn.10
Collins, P. H. (2016). Aprendendo com a outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro. Revista Sociedade e Estado, 31(1), 99–127. https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100006
Collins, P. H. (2019). Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento (1a ed.). São Paulo, SP: Boitempo.
Collins, P. H., & Bilge, S. (2021). Interseccionalidade (1a ed.). São Paulo, SP: Boitempo.
Crenshaw, K. W. (1994). Mapping the margins: intersectionality, identity politics, and violence against women of color. In M. A. Fineman, & R. Mykitiuk (Eds.). The Public Nature of Private Violence (pp. 93-118). New York, United States of America: Routledge. Recuperado de https://www.wo-men.nl/kb-bestanden/1688563567.pdf
Delgado, R., & Stefancic, J. (2021). Teoria crítica da raça: uma introdução (3a ed.). São Paulo, SP: Contracorrente.
Diangelo, R. J. (2018). Não basta não ser racista: sejamos antirracistas. São Paulo, SP: Faro Editorial.
Dickens, D., Jones, M., & Hall, N. (2020). Being a token black female faculty member in physics: exploring research on gendered racism, identity shifting as a coping strategy, and inclusivity in physics. The Physics Teacher, 58, 335–337. https://doi.org/10.1119/1.5145529
Eaton, A. A., Saunders, J. F., Jacobson, R. K., & West, K. (2020). How gender and race stereotypes impact the advancement of scholars in stem: professors’ biased evaluations of physics and biology post-doctoral candidates. Sex Roles, 82, 127–141. https://doi.org/10.1007/s11199-019-01052-w
Fanon, F. (2020). Pele negra, máscaras brancas. São Paulo, SP: Ubu.
Freire, P. (2021). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (1a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.
Gonzalez, L. (2020). Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios intervenções e diálogos (1a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Zahar.
Grosfoguel, R. (2020). Para uma visão decolonial da crise civilizatória e dos paradigmas da esquerda ocidentalizada. In J. Bernardino-Costa, N. Maldonado-Torres, & R. Grosfoguel (Ed.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico (pp. 55-77). (2a ed.). Belo Horizonte, MG: Autêntica.
Haynes, C., Joseph, N. M., Patton, L. D., Stewart, S., & Allen, E. L. (2020). Toward an understanding of intersectionality methodology: a 30-year literature synthesis of black women’s experiences in higher education. Review of Educational Research, 90(6), 751–787. https://doi.org/10.3102/0034654320946822
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2022). Censo Demográfico 2022. Rio de Janeiro, RJ. Recuperado de https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (2020). Ação afirmativa e população negra na educação superior: acesso e perfil discente. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Rio de Janeiro, RJ. Recuperado de https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2569.pdf
Johnson, I. R., Pietri, E. S., Fullilove, F., & Mowrer, S. (2019). Exploring identity-safety cues and allyship among black women students in stem environments. Psychology of Women Quarterly, 43(2), 131–150. https://doi.org/10.1177/0361684319830926
Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. (2003). Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências, Diário Oficial da União. Brasília, DF: Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Recuperado de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.639.htm#art1
Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. (2008). Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, Diário Oficial da União. Brasília, DF: Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Recuperado de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm
Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012. (2012). Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências”, Diário Oficial da União. Brasília, DF: Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Recuperado de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm
Maldonado-Torres, N. (2020). Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas. In J. Bernardino-Costa, N. Maldonado-Torres, & R. Grosfoguel (Eds.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico (pp. 27-53). (2a ed.). Belo Horizonte, MG: Autêntica.
Morton, T. R., & Nkrumah, T. (2021). A day of reckoning for the white academy: reframing success for african american women in STEM. Cultural Studies of Science Education, 16, 485–494. https://doi.org/10.1007/s11422-020-10004-w
Morton, T. R., & Parsons, E. C. (2018). #Blackgirlmagic: The identity conceptualization of black women in undergraduate stem education. Science Education, 102(6), 1363–1393. https://doi.org/10.1002/sce.21477
Nguyen, T. H., Gasman, M., Lockett, A. W., & Peña, V. (2021). Supporting black women’s pursuits in STEM. Journal of Research in Science Teaching, 58(6), 879–905. https://doi.org/10.1002/tea.21682
Nunes, P. V., Ribeiro, S. dos S., & Giraldi, P. M. (2021). Escrevivência: um olhar decolonial com recorte de gênero a partir da educação de jovens, adultos e idosos. Cadernos CIMEAC, 11(1), 139–162. https://doi.org/10.18554/cimeac.v11i1.5273
Pinheiro, B. C. S. (2019). Educação em ciências na escola democrática e as relações étnico-raciais. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 19, 329–344. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2019u329344
Pinheiro, B. C. S. (2020). @Descolonizando_saberes: mulheres negras na ciência (1a ed.). São Paulo, SP: Livraria da Física.
Prescod-Weinstein, C. (2020). Making black women scientists under white empiricism: the racialization of epistemology in physics. Journal of Women in Culture and Society, 45(2), 421–447. Recuperado de https://www.journals.uchicago.edu/doi/full/10.1086/704991
Quijano, A. (1992). Colonialidad y modernidad/racionalidad. Perú Indígena, 13(29), 11–20. Recuperado de https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/6354075/mod_resource/content/1/QUIJANO_modernidade_colonialidade.pdf
Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, eurocentrismo e a América Latina. In E. Lander (Ed.), A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas (pp. 117–142). Buenos Aires, Argentina: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. Recuperado de https://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf
Rosa, K. (2015). A (pouca) presença de minorias étnico-raciais e mulheres na construção da ciência. In Anais do XXI Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF. Uberlândia, MG. Recuperado de https://www.researchgate.net/profile/Katemari-Rosa/publication/308519718_A_POUCA_PRESENCA_DE_MINORIAS_ETNICO--RACIAIS_E_MULHERES_NA_CONSTRUCAO_DA_CIENCIA/links/57e5870708aed7fe466322a0/A-POUCA-PRESENCA-DE-MINORIAS-ETNICO--RACIAIS-E-MULHERES-NA-CONSTRUCAO-DA-CIENCIA.pdf
Rosa, K., & Mensah, F. M. (2016). Educational pathways of black women physicists: stories of experiencing and overcoming obstacles in life. Physical Review Physics Education Research, 12(2), 020113. https://doi.org/10.1103/PhysRevPhysEducRes.12.020113
Rosa, K., Alves-Brito, A., & Pinheiro, B. C. S. (2020). Pós-verdade para quem? Fatos produzidos por uma ciência racista. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 37(3), 1440–1468. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1440
Rosa, P. R. da S. (2013). Uma introdução à pesquisa qualitativa em ensino. Campo Grande, MS: Ufms.
Santos, B. de S., & Meneses, M. P. (2013). Epistemologias do sul. São Paulo, SP: Corteza.
Santos, E. F., Santos, J. O. dos, & Santos, I. F. (2018). Astronomia: uma experiência em que mulheres atuam como protagonistas. Revista Temas em Educação, 27(2), 134–151. https://doi.org/https://doi.org/10.22478/ufpb.2359-7003.2018v27n2.39757
Silva, I. S. da (2023). Raça e gênero na física: trajetórias acadêmicas de mulheres negras. (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-graduação em Ensino de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. Recuperado de http://hdl.handle.net/10183/262611
Solórzano, D. G., & Yosso, T. J. (2002). Critical race methodology: counter-storytelling as an analytical framework for education research. Qualitative Inquiry, 8(1), 23–44. https://doi.org/10.1177/107780040200800103
Souza, C. R. de, Cruz, A. C. J. da, Pierson, A. H. C., & Verrangia, D. (2019). Identidades, pertencimentos e as ciências exatas e tecnológicas. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), 11 (Ed. Esp.), 252–282. Recuperado de https://abpnrevista.org.br/site/article/view/692
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Isadora Santos da Silva, Neusa Teresinha Massoni, Alan Alves-Brito
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.
La IENCI es una revista de acceso libre (Open Access) y no hay cobro de ninguna tasa ya sea por el envío o procesamiento de los artículos. La revista adopta la definición de la Budapest Open Access Initiative (BOAI), es decir, los usuarios tienen el derecho de leer, descargar, copiar, distribuir, imprimir, buscar y hacer links directos a los textos completos de los artículos publicados en esta revista.
El autor responsable por el envío representa a todos los autores del trabajo y, al enviar este artículo para su publicación en la revista está garantizando que posee el permiso de todos para hacerlo. De igual manera, garantiza que el artículo no viola los derechos de autor y que no hay plagio en lugar alguno del trabajo. La revista no se responsabiliza de las opiniones emitidas en los artículos.
Todos los artículos de publican con la licencia Reconocimiento-NoComercial 4.0 Internacional (CC BY-NC 4.0). Los autores mantienen sus derechos de autor sobre sus producciones y deben ser contactados directamente en el caso de que hubiera interés en el uso comercial de su obra.