A ESTÉTICA DA CRIAÇÃO DOS RECURSOS DIDÁTICOS: UM REFERENCIAL ANALÍTICO BASEADO NAS IDEIAS DO CÍRCULO DE BAKHTIN
un marco basado en las ideas de Bourdieu y Bajtín
DOI:
https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2023v28n2p169Palavras-chave:
Estética, Recursos Didáticos, Livro Didático, Discurso, Lutas SociaisResumo
Recursos didáticos são constantemente produzidos e analisados pela pesquisa em educação em ciências, contribuindo tanto para o processo de ensino-aprendizagem quanto para a formação de professores. Com base na metalinguística do círculo de Bakhtin, este artigo apresenta um referencial metodológico para a análise desses recursos. Todo recurso didático pode ser considerado uma produção estética na medida em que participa dos julgamentos sobre quais visões de ciência e práticas de ensino devem ser valorizadas (ou quais devem ser evitadas). Dessa maneira, é possível reconhecer que a produção e a circulação dos recursos didáticos estão inscritas em lutas sociais próprias, ainda que não exclusivas, do campo da educação em ciências. O resultado dessas lutas sociais é a consagração de determinados recursos, profissionais e instituições em detrimento de outros. Portanto, o dispositivo analítico apresentado aqui visa captar a dimensão valorativa que constitui e interliga, dialogicamente, todos os recursos didáticos. O procedimento de análise é posto em prática para discutir as estratégias de persuasão empregadas por um artigo negacionista sobre o aquecimento global. De maneira geral, o referencial metodológico proposto aponta para a importância de se pensar qualquer projeto de transformação do ensino de ciências a partir de seus valores fundamentais.Referências
Anderson, P. (1995). Balanço do neoliberalismo. Em E. Sader & P. Gentili (Orgs.), Pós-neoliberalismo: As politicas sociais e o Estado Democrático (p. 9–23). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.
Bakhtin, M. (1990). Author and hero in aesthetic activity. Em M. Holquist & V. Liapunov (Orgs.), Art and answerability: Early philosophical essays by M. M. Bakhtin (p. 4–256). New York, United States of America: University of Texas Press. https://doi.org/10.7560/704114-003
Bakhtin, M. (2003). Os gêneros do discurso. Em Estética da criação verbal (p. 261–306). São Paulo, SP: Martins Fontes.
Barbosa, L. G. D. C., Lima, M. E. C. de C., & Machado, A. H. (2012). Controvérsias sobre o aquecimento global: Circulação de vozes e de sentidos produzidos em sala de aula. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 14(1), 113–130. https://doi.org/10.1590/1983-21172012140108
Bourdieu, P. (2015a). A produção da crença: Contribuições para uma economia dos bens simbólicos. Porto Alegre, RS: Zouk.
Bourdieu, P. (2015b). Sociologie générale: cours au Collège de France (1981-1983) (Vol. 1). Paris, France: Raison d’agir.
Cassab, M., & Martins, I. (2008). Significações de professores de ciências a respeito do livro didático. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 10(1), 113–136. https://doi.org/10.1590/1983-21172008100108
Chiesa Bartelmebs, R., Venturi, T., & De Sousa, R. S. (2021). Pandemia, negacionismo científico, pós-verdade: Contribuições da pós-graduação em educação em ciências na formação de professores. Revista Insignare Scientia, 4(5), 64–85. https://doi.org/10.36661/2595-4520.2021v4i5.12564
Colpo, C. C., & Wenzel, J. S. (2021). Uma revisão acerca do uso de textos de divulgação científica no ensino de ciências: Inferências e possibilidades. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, 14(1), 3–23. https://doi.org/10.5007/1982-5153.2021.e67344
Correia, D., Decian, E., & Sauerwein, I. P. S. (2017). Leitura e argumentação: Potencialidades do uso de textos de divulgação científica em aulas de Física do ensino médio. Ciencia & Educação (Bauru), 23(4), 1017–1034. https://doi.org/10.1590/1516-731320170040010
Dardot, P., & Laval, C. (2016). A nova razão do mundo: Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo, SP: Boitempo.
Deconto, D. C. S., & Ostermann, F. (2020). Educação em Ciências e Pensamento Bakhtiniano: Uma Análise de Trabalhos Publicados em Periódicos Nacionais. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 20, 121–156. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2020u121156
Deming, D. (2009). O aquecimento global é uma fraude. Mises Brasil. https://www.mises.org.br/article/324/o-aquecimento-global-e-uma-fraude
Faraco, C. A. (2009). Linguagem & diálogo: As ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo, SP: Parábola.
Faraco, C. A. (2017). Autor e autoria. Em B. Brait (Org.), Bakhtin: Conceitos-chave (p. 37–60). São Paulo, SP: Contexto.
Fiorin, J. L. (2006). Interdiscursividade e Intertextualidade. Em B. Brait (Org.), Bakhtin: Outros conceitos-chave (p. 161–178). São Paulo, SP: Contexto.
GREF. (1998). Leituras de Física: Mecânica. São Paulo, SP: USP. http://www.if.usp.br/gref/
Hoffmann, M. B., & Scheid, N. M. J. (2007). Analogias como ferramenta didática do ensino de Biologia. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 9(1), 21–37. https://doi.org/10.1590/1983-21172007090103
Junges, A. L., & Massoni, N. T. (2018). O Consenso Científico sobre Aquecimento Global Antropogênico: Considerações Históricas e Epistemológicas e Reflexões para o Ensino dessa Temática. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 18(2),455–491. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2018182455
Kant, I. (2016). Crítica da faculdade de julgar. São Paulo, SP: Vozes.
Libâneo, J. C. (2014). Democratização da escola pública. São Paulo, SP: Loyola.
Lima Junior, P., Anderhag, P., & Wickman, P.-O. (2022). How does a science teacher distinguish himself as a good professional? An inquiry into the aesthetics of taste for teaching. International Journal of Science Education, 44(5), 815–832. https://doi.org/10.1080/09500693.2021.1958392
Lima Junior, P., Silveira, F. L. da, Ostermann, F., & Pinheiro, N. C. (2014). A Física como uma construção cultural arbitrária: Um exemplo da controvérsia sobre o status ontológico das forças inerciais. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 15(1), 195–217. https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbpec/article/view/4308
Lima, N. W., Nascimento, M. M., Ostermann, F., & Cavalcanti, C. J. de H. (2019). A teoria do enunciado concreto e a interpretação metalinguistica: Bases filosóficas, reflexões metodológicas e aplicações para os estudos das ciências e para a pesquisa em educação em ciências. Investigações em Ensino de Ciências, 24(3), 258–281. https://doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2019v24n3p258
Megid Neto, J., & Fracalanza, H. (2003). O livro didático de ciências: Problemas e soluções. Ciência & Educação (Bauru), 9(2), 147–157. https://doi.org/10.1590/S1516-73132003000200001
Melo, M. G. de A., Neves, M. C. D., Silva, S. D. C. R. da, Pinheiro, N. A. M., & Miquelin, A. F. (2020). O livro didático de Física e suas tendências: Uma análise necessária da influência behaviorista no ensino de ciências. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, 11(5), 185–203. https://doi.org/10.26843/rencima.v11i5.2173
Mori, R. C., & Curvelo, A. A. da S. (2021). Relendo ‘O livro didático de Ciências no Brasil’. Pro-posições, 32, e20190058. https://doi.org/10.1590/1980-6248-2019-0058
Mori, R. C., Santos, J. A. L. dos, Klein, G. N., & Stefano, W. (2020). A contextualização histórica da evolução em livros didáticos de ciências. História da Ciência e Ensino, 21, 87–102. http://dx.doi.org/10.23925/2178-2911.2020v21p87-102
Pedreira, A. J., & Carneiro, M. H. da S. (2017). Livro didático de Biologia: Um levantamento bibliográfico. Atas do XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 11. https://www.abrapec.com/enpec/xi-enpec/anais/busca.htm
Queiroz, M. N. A., & Hossoume, Y. (2016). Ensino de física no Brasil nas décadas de 1960-1970 na perspectiva dos projetos inovadores PSSC, PEF e FAI. Atas do EPEF, Natal. https://fep.if.usp.br/~profis/arquivo/projetos/artigos/QUEIROZ_2016.pdf
Rudek, K., & Hermel, E. D. E. S. (2021). Educação em saúde nos livros didáticos de Ciências e Biologia brasileiros: Um panorama das teses e dissertações (1994 – 2018). Sustinere, 9, 3–20. https://doi.org/10.12957/sustinere.2021.57488
Santos, W. L. P. dos, & Carneiro, M. H. da S. (2006). Livro Didático de Ciências: Fonte de Informação ou Apostila de Exercícios? Contexto e Educação, 21(76), 201–222. https://doi.org/10.21527/2179-1309.2006.76.201-222
Schnorr, S. M., & Pietrocola, M. (2021). A emergência das noções de formação, livro didático e ambiental na educação em ciências. Ciência & Educação (Bauru), 27, e21029. https://doi.org/10.1590/1516-731320210029
Sobrinho Junior, J. F., & Mesquita, N. A. da S. (2022). A evolução histórica da interação entre o leitor e o livro didático de Ciências no Brasil. Ciência & Educação(Bauru), 28, e22012. https://doi.org/10.1590/1516-731320220012
Sousa, T. W. de A., & Queirós, W. P. de. (2019). Panorama das pesquisas sobre a análise de recursos didáticos no Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciência (ENPEC). Amazônia: Revista de Educação em Ciências e Matemáticas, 15(34), 165. https://doi.org/10.18542/amazrecm.v15i34.6916
Souza, P. H. R. de, & Rocha, M. B. (2018). O caráter híbrido dos textos de divulgação científica inseridos em livros didáticos. Ciência & Educação, 24(4), 1043–1063. https://doi.org/10.1590/1516-731320180040015
Veneu, A., Ferraz, G., & Rezende, F. (2015). Análise de discursos no ensino de ciências: Considerações teóricas, implicações epistemológicas e metodológicas. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, 17(1), 126–149. https://doi.org/10.1590/1983-211720175170106
Vilela, M. L., & Selles, S. E. (2020). É possível uma Educação em Ciências crítica em tempos de negacionismo científico? Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 37(3), 1722–1747. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1722
Voloshinov, V. N. (2010). Marxismo e Filosofia da Linguagem (12a ed).. São Paulo, SP: Hucitec.
Wertsch, J. (1993). Voices of the mind: Sociocultural approach to mediated action. Cambridge, United States of America: Harvard University Press.
Wickman, P.-O. (2005). Aesthetic experience in science education: Learning and meaning-making as situated talk and action. New York, United States of America: Taylor & Francis. https://doi.org/10.4324/9781410615756
Zizek, S. (Org.). (1996). Um mapa da ideologia. São Paulo, SP: Contraponto.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Paulo Lima Junior
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
A IENCI é uma revista de acesso aberto (Open Access), sem que haja a necessidade de pagamentos de taxas, seja para submissão ou processamento dos artigos. A revista adota a definição da Budapest Open Access Initiative (BOAI), ou seja, os usuários possuem o direito de ler, baixar, copiar, distribuir, imprimir, buscar e fazer links diretos para os textos completos dos artigos nela publicados.
O autor responsável pela submissão representa todos os autores do trabalho e, ao enviar o artigo para a revista, está garantindo que tem a permissão de todos para fazê-lo. Da mesma forma, assegura que o artigo não viola direitos autorais e que não há plágio no trabalho. A revista não se responsabiliza pelas opiniões emitidas.
Todos os artigos são publicados com a licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional. Os autores mantém os direitos autorais sobre suas produções, devendo ser contatados diretamente se houver interesse em uso comercial dos trabalhos.
